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Estoril Classics: 50.000 visitantes em três dias

O rugido dos motores históricos voltou a ecoar no lendário Autódromo do Estoril. Neste primeiro fim de semana de outubro, Cascais acolheu a 9.ª edição do Estoril Classics, o maior evento de automóveis clássicos do sul da Europa, reunindo mais de 250 carros históricos e cerca de setenta pilotos de doze nacionalidades diferentes em competição, transformando a pista que já recebeu a Fórmula 1, num palco de pura nostalgia, adrenalina e paixão.
"O Estoril Classics, nestes nove anos de existência, cresceu para se tornar uma referência no mundo dos automóveis clássicos de competição, trazendo a Cascais os melhores carros e pilotos da atualidade", referiu Diogo Ferrão, CEO do evento que adiantou, terem passado pelo Autódromo do Estoril, este ano, "cerca de 50.000 visitantes durante os três dias ".
Entre os protagonistas, brilharam 38 ícones da "Rainha das corridas" que marcaram eras distintas: o Benetton B191 onde Michael Schumacher iniciou a sua carreira, o revolucionário Lotus 78 de 1977, o Williams FW07B de 1980 ou ainda o McLaren MP4 de 1982. Máquinas que escreveram páginas eternas da história do automobilismo e que agora regressam à ação, despertando memórias dos tempos dourados do Estoril.
Foi neste mesmo circuito que se viveram momentos inesquecíveis protagonizados por lendas da Fórmula 1. Ayrton Senna conquistou aqui a sua primeira vitória, em 1985, ao volante de um Lotus 97T, regressando ao topo do pódio em 1988 com o mítico McLaren MP4/4. Alain Prost, o eterno rival, venceu o primeiro GP de Portugal realizado no Estoril, em 1984, repetindo o triunfo em 1987. Já Nigel Mansell somou três vitórias no traçado português: em 1986 com a Williams-Honda, em 1990 com a Ferrari e em 1992 com a Williams-Renault FW14B. Cada curva do Estoril guarda a memória destes duelos épicos, que agora ecoam no espírito do Estoril Classics.
No recinto expositivo encontrámos muitos estrangeiros, vindos dos quatro cantos do mundo, mas também nacionais de todo o país. É o caso de José Forte, um nome conhecido no meio automibilistico de competição, que veio do Porto para "assistir às corridas e rever amigos dos tempos áureos de Vila Real e de Vila do Conde". Enquanto falávamos com ele, emocionou-se com a passagem a pouco metros de um Datsun 1200, um modelo marcante da história do automobilismo português. "Estar a ver estas máquinas maravilhosas, encontrar os amigos, ver estes carros que nos dizem muito porque fizeram história... estes sáo momentos mesmo únicos", disse José Forte entusiasmado e garantindo que irá competir na próxima edição de 2026.
De facto, os Classic Endurance Racing e os Sixties' Endurance, das provas mais aguardadas, trouxeram de regresso os protótipos, GTs e turismos que moldaram décadas de corridas. Também no paddock, o ambiente esteve ao rubro: entusiastas, colecionadores e curiosos puderam ver de perto as máquinas e sentir o pulsar de um espetáculo que recria o espírito dos campeonatos históricos com autenticidade rara.
"Conheço grande parte das provas de Clássicos na Europa, como Silverstone e Goodwood, e acho que o Estoril Classics está no top 3 dos eventos europeus", afirmou Miguel Corte-Real, um amante e colecionador de clássicos que também já participou em corridas um pouco por todo o mundo e que não perde uma edição do Estoril Classics, gabando a qualidade dos carros, dos pilotos e da organização.
Mas o Estoril Classics é mais do que velocidade e memórias. É também um motor económico e turístico de enorme impacto para Cascais, com reflexos diretos na hotelaria, restauração e comércio local. O concelho reforça assim a sua imagem de destino de excelência para o segmento dos “Gentleman Drivers” e para os apaixonados por automóveis de coleção.
Para Manuel Gião, piloto português de renome, "este é um evento único porque é transversal a muitas gerações, quer a quem viu, nos anos 60, estes carros correrem aqui no Circuito do Estoril, quer aos novos adeptos que podem apreciar a evolução toda destes maravilhosos carros". Manuel Gião, que disputou a Fórmula 3, o Internacional Open GT e o SEAT Leon Eurocup em 2014, onde foi vice-campeão, e em 2015, sublinhou a importância para o turismo e para a economia local do Estoril Classics, "Temos os hóteis locais cheios", exclamou o piloto.
Ao longo do fim de semana, Cascais não foi apenas a capital do automobilismo clássico: foi o ponto de encontro dos amantes da cultura automobilística, de todas as gerações. Uma celebração que vai muito além da pista, envolvendo clubes de automóveis antigos, encontros, treinos e iniciativas que consolidam o concelho como epicentro europeu da cultura automóvel histórica.
Quem foi este fim de semana ao lendário circuito do Estoril não se vai esquecer tão depressa. Pais, filhos, avós e netos embarcaram numa viagem no tempo sobre rodas, onde cada motor conta uma história e cada curva faz ecoar o legado do automobilismo mundial — com Cascais no centro desse palco inesquecível.