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Reportagem - Visita guiada à Quinta da Ribeira de Caparide

Único produtor de Cascais de vinho de Carcavelos, António Gomes mostra, nas mãos calejadas e na face queimada pelo sol, a paixão que tem por este néctar. Na Quinta da Ribeira de Caparide, onde o encontrámos a fazer a poda das vinhas, contou-nos um pouco da história e das dificuldades que encontra no seu dia-a-dia.

Boletim C nº 4

Enquanto nos preparamos para a conversa, António corta as pontas das vinhas com a sua tesoura elétrica, pois “já não há a mão-de-obra para este trabalho duro”. A única ajuda segue a seu lado – o genro, que dentro em breve vai ser operado e deixará António sozinho com as “suas” vinhas. “Desde há sete para cá a vindima é feita à máquina”, refere nostálgico do tempo em que aqueles campos se enchiam de gente a vindimar.

São quatro as vinhas que tem de amanhar: Quinta dos Pesos, Mosteiro de Santa Maria do Mar, Quinta da Samarra e Quinta da Ribeira. “Fui convidado, há 23 anos, pelo Padre Álvaro Bizarro, diretor do antigo seminário que aqui existia para vir trabalhar estas terras. E aqui continuo, também com outras quintas”, justifica assim a sua presença.

Enquanto a conversa decorria, cheirávamos o ar de campo e o vitivinicultor justifica a singularidade do vinho de Carcavelos: “esta terra é única, pois tem um terreno que não é muito inclinado e tem a presença da humidade marítima do lado sul; e, do lado norte, temos a serra de Sintra que traz a humidade da noite para as uvas. Estes factores dão um toque muito especial às uvas, impossível de recriar em mais lado nenhum”, refere orgulhoso.

E as castas? Qual a importância das castas? Como especialista, do alto do seu saber, atira: “as castas classificadas são sete, o mínimo para se fazer um bom vinho de Carcavelos. Nas castas brancas temos o Arinto, Fernando Pires, Rabo de Ovelha e o Galego Doirado. Nas tintas o João Santarém, a Periquita e a Trincadeira Preta”, afirma.

Mas as curiosidades não ficam por aqui. Adepto da tradição, António Gomes não gosta da rega gota-a-gota. Confia que a meteorologia faz o seu trabalho, apesar de o tempo estar ainda muito quente. “Sabe, quando oiço o comboio aqui de manhã na quinta é certo que 2 a 3 dias depois chove. Como se costuma dizer é quando o tempo vira. Nessa altura faço um tratamento”.

Este processo passa por 15 dias de poda, quatro para atar as vinhas, amanhar os terrenos e esperar que o tempo faça o seu trabalho: chuva, calor e humidade para que as uvas comecem a nascer para o fim de março, princípio de abril. Depois, é esperar que amadureçam para serem vindimadas em finais de setembro. E todo este método é repetido nas quatro quintas, num total de 12 hectares de vinha.

Depois da vindima, as uvas ficam uns dias a fermentar para ficar com a graduação de 8 a 9 graus. Findo esse tempo, retira-se para a vasilha: “Depois é acrescentada a aguardente vinícola que é dada pela estação vitivinícola e é assim que “morre” a fermentação do vinho. Como as uvas são graduadas, não é preciso muita aguardente”, relata o vitivinicultor.

Mas o verdadeiro segredo é o seu repouso. No mínimo, o vinho de Carcavelos fica a repousar dois a três anos, em pipas de carvalho. Estas, para além de todos os outros factores, são responsáveis pelo sabor doce, mas robusto que este néctar apresenta. Findo o repouso é engarrafado e tem de ficar no mínimo seis meses a estagiar na garrafa. Mas não se pense que o processo acaba aqui. Para ser comercializado “tem de ter a aprovação da comissão vitivinícola, para ver se é necessário melhoramentos ou se está pronto a ser vendido”, refere António Gomes, que explica ainda: “Se a colheita não for aprovada, toda a produção do vinho vai para a queima e perdemos o trabalho de três ou quatro anos”.

Por isso, e para rentabilizar as vinhas, a Quinta da Ribeira de Caparide produz vinho corrente de mesa enquanto espera por outra produção de Carcavelos. E este também é reconhecido e vendido ao público. Já no final da conversa somos convidados a provar o vinho de Carcavelos de 2004 e, após provar e saborear, percebemos que, de facto, este vinho é único. E ficamos igualmente a saber que este vinho fica sempre bem, seja como aperitivo ou digestivo… “Recomendo”, remata António Gomes, sem presunção.

Três séculos de história da Quinta de Ribeira
Na adega da Quinta da Ribeira de Caparide produz-se vinho de mesa e o generoso Carcavelos com marca registada. Esta quinta possui um solar setecentista que pertenceu à família Pereira Coutinho, com dois corpos paralelos e capela. O lagar apresenta uma arquitetura do século XVIII e foi mandado construir, assim como o palácio, pelo marechal de campo José Sanches de Brito, casado com D. Maria Luísa Margarida Leonor de Weinholtz. O casal Sanches de Brito- Weinholtz teve um único filho, Álvaro Sanches de Brito, que, no final d e setecentos (?) vendeu, aos avós de António Pereira Coutinho, a Quinta de Ribeira (que ainda hoje conserva a pedra de armas dos primeiros proprietários). Mais tarde, os herdeiros de Pereira Coutinho venderam a propriedade ao Patriarcado de Lisboa.

Texto – Marta Silvestre
Fotografias – Luís Bento
Vídeo – Ana Laura Alcântara

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