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Como o velho Galeão chegou novo

O renovado galeão Estou Para Ver amarrou uma nova vida em Cascais

– Larga as amarras! Grita o mestre Jaime.

– Aí vai ele! – E o velho galeão que há pouco mais de 24 meses ali chegou desolado, agora, empurrado por um punhado de artífices deslizava lesto sobre os carros nos carris água adentro.

– Vai ao guincho vai ao guincho, puxa, puxa, puxa…! gritava o mestre.

– Há muito cabo ainda… respondia o ajudante.

– Não vês que está desenrolado… – replicava o Mestre com receio que o barco não se soltasse do carro pousado nos carris. Mas o galeão depressa sacudia o peso no pedaço de água que a maré levara até à beirinha da doca seca do Mestre Jaime Costa.    

As vozes ficavam para trás e o galeão “Estou Para Ver” refletia na água uma imagem diferente. Nem ele se reconhecia, acabadinho de sair das mãos dos artistas de Sarilhos Pequenos, que grandes haveria ele de ter agora para encaixar a quilha no leito mais fundo do estuário, sem bater nos taludes submersos. O leito navegável não tinha mais de três metros conquistados milímetro a milímetro pela subida da maré num desespero de espera.

Agora, o Galeão já estava no Tejo menos profundo, é verdade, mas água não lhe iria faltar para encharcar bem o casco e provar que afinal o mestre calafate não deixou junta sem estopa, e bem chumaçada.

Dois anos de trabalhos no estaleiro de Jaime Costa em que o velho galeão consumido largou ali o costado, deixou ver as cavernas que foram sendo renovadas uma a uma. Aos poucos o "Estou Para Ver" rejuvenescia. No tabuado do fundo, na quilha e sobrequilha, no cabeço das canas do leme o Mestre Jaime deu-lhe a resistência do melhor pinho de Sintra, no convés a dureza da kambala, e na cabine a leveza do sapele.

Da doca seca agora já só se via o mastro em pinho vermelho e, muito em breve, pelos cadernais talhados em freixo passariam as adriças que içaram a vela onde se lia: Cascais.  

E Cascais já não estava longe. Antes que lá cheguemos, agora capitaneados pelo Fausto Salvador, voltemos um pouco atrás para concluir que dos 102 anos de vida agora só restava a memória de vários capitães ao leme, na pesca do cerco, carregando o peso do sal nas águas do sado, algumas longas passeatas pelo Mar Vermelho e, mais recentemente, já depois de adquirido pela autarquia, em 2003,  como sala de aula da escola da arte de marear, mas também proporcionando passeios turísticos no Mar de Cascais.

Agora a autarquia arranjava-lhe uma nova vida ou melhor, uma nova razão de viver: Com a Fundação D. Luis I ao leme, como referiria o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, o Estou Para Ver “irá  ficar disponível para toda a comunidade”, com ligação ao desporto, à juventude, mas também voltando a ser a sala de aula privilegiada do ensino técnico profissional da secundária de Carcavelos, e para que os cientistas e historiadores que calcorreiam a costa de Cascais continuem a proteger a biologia e arqueologia marinhas. HC/CB/AG/BN/LB/CMC

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