CONTACTOS
Fale connosco
800 203 186
Em rede

Está aqui

A escola do futuro encerra quinzena da formação

O papel da Ciência e da Tecnologia no futuro da Educação reuniu alguns consensos no debate que a Câmara Municipal de Cascais realizou, assinalando o encerramento da quinzena da Orientação e Formação Profissional em Cascais.

Na intervenção de abertura, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras lançaria algumas das questões que suscitariam a concordância entre os sete oradores que lhe seguiram, defendendo a Escola como sede de uma cidadania, e uma Smart City de liderança partilhada: “Ninguém pode esperar cidadãos com todas as suas responsabilidades e direitos se esses valores não forem adquiridos a partir da escola”, referiu Carlos Carreiras.

E, a ideia da escola como sede da cidadania e para onde converge toda a realidade social, política e económica da comunidade que a rodeia foi uma das abordagens de Ana Cláudia Cohen, diretora do Agrupamento de Escolas de Alcanena, considerada uma das melhores escolas da Europa a ensinar ciência. “Sou diretora do único agrupamento de escolas daquele concelho” o que, sustentaria, lhe acrescenta maior “responsabilidade perante aquela comunidade, fortemente industrializada” que, naturalmente, no contexto de uma crise vê os problemas inerentes refletirem-se numa escola que acolhe filhos dos industriais e dos operários, e que ali procuram respostas. “Como conseguimos que estas crianças, estes jovens cresçam e sejam cidadãos esclarecidos que é a nossa missão, ajudá-los a desenvolver uma cidadania esclarecida, ativa, inovadora e empreendedora, mas preocupada com o bem-estar próprio, do outro e do planeta”.

“Ajudá-los desde pequenos a tomar decisões e a produzir conhecimento” é o papel da Escola, afirma Ana Cláudia Cohen. Uma escola que aposta “fortemente na ESTEME” (Excellence in Science, Technology, Engineering and Mathematics Education), e aquilo que antes era feito “esporadicamente em clubes, nas chamadas capelinhas, passou a ser feito diariamente na sala de aula, mudamos o currículo, integramos o currículo local, alicerçado num plano vertical de desenvolvimento de competência socio emocionais (…) com parcerias com o Centro de Ciência Viva e também numa democracia colaborativa, porque acredito na liderança partilhada. Tem que haver uma visão partilhada de escola”, disse Ana Cohen.

A diretora deste agrupamento de escolas explicou então o percurso dos alunos de uma escola que os acolhe dos 3 anos de idade até ao 12.º ano: “Os alunos com 3 anos de idade tem o contacto com a robótica, com a ciência através de um projeto XXS, com a Ciência Viva. No primeiro ciclo vão uma semana todas as turmas para o Centro de Ciência Viva ter aulas, vestem a bata do cientista, o papel do cientista, têm contacto com cientista e desenvolvem projetos. Ensinamos os nossos alunos no primeiro ciclo a trabalhar com variáveis. A partir do 2.º ciclo, em colaboração com a ciência viva, mas também com a Associação Materiais Diversos e temos três residências artísticas. Temos três artistas em permanência que acompanham as turmas diariamente. A matemática com a arte, a matemática com o movimento, com o som, com o desenho, na rua. Isto é, a sala de aula deixou de ter paredes. E tudo é possível curricularmente, nas aulas, importante para cada turma e para os projetos que estão a desenvolver. Depois temos de escalar e, portanto, a via investigativa e a via científica, que é aquilo que queremos para a tomada de decisão, para os alunos olharem para o mundo de forma cuidada, selecionarem problemas da comunidade, que querem dar resposta e que através da via científica o vão fazer, começa no 3.º ciclo”.

Ana Cohen dá exemplos de como aquela pequena comunidade de alunos está preocupada com o que os rodeia e produz ciência para resolver os problemas locais: “Desde criar compósitos para substituir o plástico, sugerir aos empresários o curtimento da pele, na economia circular com resíduos da própria pele, para abolir o crómio, à produção de fertilizantes a partir das raspas dos curtumes, porque é essa a indústria local”.

Uma comunidade escolar preocupada com a “sustentabilidade da comunidade e do planeta” que todos os dias é “levada a tomar decisões, porque são eles que escolhem os temas, são eles que decidem as variáveis e que formulam as hipóteses, que contactam as universidades, nacionais e estrangeiras para validarem as suas hipóteses. Isto é produção de conhecimento, é preparar os alunos para o futuro, para pensarem fora da caixa”, conclui.

E, no que respeita ao enquadramento das ciências e das artes esclarece a diretora: “Não há um divórcio entre as ciências e as artes, quase todos os nossos alunos de ciências e tecnologias têm um percurso de ensino artístico, a grande maioria e isso é fantástico porque a criatividade deles está sempre ao rubro”.

Outra das oradoras deste debate, Rosalia Vargas, diretora do Pavilhão do Conhecimento, contrariando algumas críticas do orador que a precedeu, Pina Martins, CEO da Science For You, ao sistema educativo português, lembrou os resultados recentes da OCDE que mostram “a posição de Portugal num patamar de grande evolução da educação, a par com a evolução da ciência e tecnologia no país”.

Mas, Rosalia Vargas lembraria a nobre função dos professores dando como exemplo os casos de Lucy Kellaway que abandonou uma carreira bem-sucedida de jornalista do Financial-Times, para se dedicar ao ensino da matemática numa escola superior, ou de outro bem-sucedido jovem economista que abandonou a uma carreira bem remunerada no centro histórico e financeiro de Londres para regressar à escola como professor. E recordou uma frase de Lucy Kellaway: “São os professores que tornam as outras profissões possíveis.”    

A relação da tecnologia com a ciência foi o tema abordado por Neusa Pedro, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, começando por destacar quatro aspetos essenciais nesta abordagem: A primeira ideia passa pela necessidade de pensar a tecnologia numa relação muito estreita com a ciência: “Não temos mais capacidade de dissociar tecnologia de ciência e não temos vantagem em fazê-lo. Precisamos hoje de ter uma sociedade mais alicerçada no conhecimento científico, na decisão política baseada em evidência científica e ela não vai acontecer se não tivermos sociedades tecnologicamente fluentes”. E, tal como Carlos Carreiras tinha defendido, que a “Tecnologia deve ser entendida como um instrumento”, também Neusa Pedro refere que a “tecnologia não é o fim das nossas preocupações, é o meio que temos para tentar chegar às múltiplas finalidades que a educação tem que assumir. A tecnologia tem que estar no currículo e tem que estar ao serviço do currículo. A tecnologia tem que estar ao serviço da escola e não deve ser nunca invertida esta relação”, disse.

A segunda ideia que é a de que a “tecnologia também tem que estar como requisito e como garantia de cidadania”; A terceira ideia referida pela professora Neusa Pedro “é a de que a tecnologia deve ser entendida como um meio de garantia da inclusão” e a quarta ideia é a de que a “tecnologia pela empregabilidade, que assegure a empregabilidade”. Neusa Pedro lembra “os relatórios que a UNESCO publicou e que falam nas digital skills”, para assegurar empregos decentes. “Nós não queremos emprego precário, não queremos subemprego, precisamos que o modelo económico europeu persista”.

Também o secretário de Estado Adjunto e da Educação, Professor João Costa defendeu a “necessidade de não olharmos apenas para a ciência, sem introduzirmos grandes doses de ética, de responsabilidade social naquilo que é o desenvolvimento científico, um futuro que deve ser trilhado no futuro da educação”.

João Costa considerou perigoso para a humanidade a Ciência pela Ciência ou a ciência sem estar eivada de princípios éticos”.

O secretário de Estado referiu-se a três dimensões dos sistemas educativos que tem um potencial letal: “Pensarmos que só vamos ensinar aquilo que é útil; Precisamos de valorizar todo o conhecimento e todas as facetas do conhecimento percebendo que sem ciência não há desenvolvimento humano; Desenvolver pensamento científico, aproveitar a tecnologia como instrumento e não nos tornarmos nós submissos à tecnologia”.

A intervenção de encerramento deste webinar coube ao vereador da Câmara Municipal de Cascais com o pelouro da Educação, Frederico Pinho de Almeida.

Cascais Digital

my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0