Está aqui
| Residentes |
|---|
Já se encontra disponível a Agenda Cultural Setembro/Outubro
A 15 de setembro, coincidindo com o início do novo ano letivo, concretiza-se a muito aguardada reabertura da Biblioteca Municipal de Cascais – Casa da Horta da Quinta de Santa Clara, temporariamente encerrada ao público para obras de conservação desde novembro de 2011. Mais postos de leitura, um catálogo renovado e a disponibilização de internet sem fios, proporcionará uma utilização mais cómoda para as centenas de utilizadores diários que se habituaram a frequentar esta acolhedora biblioteca e que encontrarão agora excelentes motivos para regressarem.
Fora do seu calendário habitual, devido à realização, em julho passado, do Congresso Internacional de Reabilitação do Património Arquitetónico e Edificado, os XIX Cursos Internacionais de Verão de Cascais decorrem este ano de 24 de setembro a 6 de outubro. Sob a coordenação geral do Prof. José Manuel Tengarrinha, presidente do Instituto de Cultura e Estudos Sociais, e com a parceria da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a 19ª edição dos CIVC dirige a sua atenção para o continente asiático, contando com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau e a coordenação do Prof. Luís Filipe Barreto. As inscrições estão abertas e podem efetuar-se online aqui.
Ainda no âmbito da programação cultural agendada para os próximos meses, destaque para a inauguração no dia 20 de setembro, no Centro Cultural de Cascais, da exposição da extraordinária coleção de aguarelas do britânico Charles Landseer, em resultado de uma parceria entre a Fundação D. Luís I e a Espírito Santo Cultura (Brasil), que se juntaram ao Instituto Moreira Salles (São Paulo – Brasil), proprietário da coleção, para dar a conhecer ao público português esta mostra inédita de obras.
Mas são muitas mais as propostas que Cascais tem para lhe oferecer nos próximos dois meses, desde cursos livres no Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães e Casa de Santa Maria a concertos, atividades para crianças e famílias ou passeios e visitas guiadas nos museus municipais. Consulte a Agenda Cultural e selecione as iniciativas que não quer perder.
Veja a versão online aqui!
Agenda do Presidente da Câmara Municipal de Cascais de 30 de agosto a 9 de setembro
Sexta, dia 30 de agosto,
18h00 - Cocktail de Abertura do Cascais Vela 2012, no Clube Naval de Cascais.
Sábado, dia 1 de setembro,
10h00 (hora a confirmar) - Cerimónia Oficial da Entrega de Prémios do Campeonato Nacional Ténis categoria Sub-16, Carcavelos Ténis.
20h00 - Jantar do Cascais Vela 2012, no Clube Naval de Cascais.
Domingo, dia 2 de Setembro,
13h00 - XII BANDAJANES – Encontro de Bandas Filarmónicas Amadoras, na Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira.
15h00 - Procissão em Honra de Nossa Sra. do Cabo, partida da Igreja Matriz de Alcabideche.
17h00 - Cocktail e Entrega de Prémios do Cascais Vela 2012, no Clube Naval de Cascais.
Segunda, dia 3 de Setembro,
10h00 - Abertura VI Olimpíadas Iberoamericanas de Biologia, no Teatro Gil Vicente.
Quarta, dia 5 de Setembro,
18h00 - Sessão de abertura do Congresso Psicologia –“14th European Social Cognition Network” (Rede Europeia de Cognição Social), no Hotel Estoril Palace.
Quinta, dia 6 de Setembro,
17h45 - Inauguração da unidade de produção da marca "Santini", no Mercado Municipal de Carcavelos.
Tamariz recebe etapa final do concurso “Construções na Areia” | Competição nasceu há 60 anos no Estoril
A final do concurso irá reunir os 24 vencedores das etapas eliminatórias que se realizaram em várias praias do país, de Norte a Sul, ao longo do mês de agosto. Os participantes têm entre 11 e 14 anos. O tema das construções é livre, no entanto os trabalhos deverão ser executados por memorização.
Está ainda confirmada a participação do vencedor angolano da iniciativa “Construções na Areia”, cujo prémio foi a presença na edição portuguesa da competição.
Este ano o concurso contou com a participação direta de mais de 1500 crianças, tanto nas construções como em jogos tradicionais que se realizaram paralelamente.
Greenfest 2012 | Festival da sustentabilidade promove Empreendedorismo
Em Art&Culture os visitantes poderão visitar uma zona exposição de obras de arte, assistir a sessões de cinema e à final do concurso de bandas U-Rock, participar em wokshops de dança e de teatro e até assistir a uma extração de lotaria popular.
Ser sustentável é, também, ser saudável, por essa razão o GreenFest tem um espaço ligado ao bem-estar. Em Care&Longevity os visitantes poderão ter acesso a um espaço de wellness, a aulas de yoga e de dança, bem como a rastreios gratuitos e aconselhamento em diversas áreas da saúde.
Em Cross Generations serão desenvolvidas atividades que promovem a partilha de histórias e conhecimentos entre gerações. Debates e workshops para aprender a utilizar a internet e o telemóvel, mas também aulas de cozinha e de ginástica serão algumas das atividades em que miúdos e graúdos vão aprender e ensinar, em conjunto.
Em Desgin&Arquitecture existirão demonstrações de mini jardins, num espaço de decoração totalmente elaborado com materiais reciclados e desenhado em parceria com os alunos do IADE.
Em Eco-Fashion poder-se-á assistir a desfiles de moda, inovadores e originais. Uma das atrações será a apresentação do trabalho de Teresa Martins, a criadora que surpreendeu na última edição do Portugal Fashion, apresentando os seus modelos em corpos de bailarinos.
A eco-tendência Home&Cooking conta com ateliês para crianças da Vitamimos, demonstrações de prestigiados chefes como Chakall, que demonstrará como aliar os bons sabores à boa saúde.
Gincanas para todos, com características únicas proporcionando diversas sensações e uma forte integração no meio natural, workshops de defesa pessoal para seniores e crianças, são algumas das atividades que definem a tendência Leisure&Pleasure.
O GreenFest contará ainda com momentos dedicados a conferências e workshops sobre conteúdos de grande valor em Talking&Sharing Knowledge. Vários especialistas vão estar presentes em ações de formação e sessões de informação acerca de temas como empreendedorismo, turismo sustentável, ou cidades do futuro.
O maior festival de sustentabilidade do país decorre desde a sua primeira edição no Centro de Congressos do Estoril e é uma iniciativa do Grupo Gingko, da Sair da Casca, empresa de consultoria em estratégia de desenvolvimento sustentável, e da Câmara Municipal de Cascais.
Cascais adere ao programa “Soft Landing” - Internacionalização de empresas ligadas à inovação torna-se mais fácil
Assim, se uma empresa de Cascais quiser, por exemplo, explorar determinado mercado no Brasil, no Chile, na Rússia, EUA ou Europa pode entrar em contacto com a DNA, que faz a ponte com um BIC daquele país que integre a rede “Soft Landing”. Estabelecida a ligação, o BIC de acolhimento poderá ajudar o(s) empresário(s) em áreas tão distintas como a incubação da empresa, acompanhamento durante visitas de negócio, aconselhamento em áreas jurídicas, financeiras e/ou burocráticas, contactos com empresários locais, logística, entre outros. A situação contrária também é possível: sendo considerada um BIC, a DNA Cascais poderá receber empresas estrangeiras e apoiá-las durante os meses de prospeção de mercado no nosso concelho/país.
Promovido pela EBN, este programa vem alargar a cooperação até agora disponível aos membros da associação. Estes passam agora a ter acesso a outros mercados para além dos europeus, havendo atualmente 74 BICs de todo o mundo envolvidos no “Soft Landing”. A iniciativa tem como objetivo oferecer às empresas relacionadas com o setor da inovação soluções simples e práticas que lhes permitam internacionalizar-se, disponibilizando suporte na exploração de mercados e implementação de negócios além-fronteiras. No caso de Cascais, todas as empresas deste setor podem aderir ao programa através da DNA. Não é obrigatório a empresa ter sido apoiada pela agência municipal de empreendedorismo. O programa tem custos associados, que são negociados caso a caso entre a empresa, o BIC de acolhimento e o BIC de origem (mais informações em www.ebnsoftlanding.org).
Cascais, os BICs e a EBN
A EBN - European Business and Innovation Centre Network é uma rede que reúne cerca de 200 Business & Innovation Centres (BICs) de toda a Europa. Os BIC's são organizações que promovem e apoiam a inovação e o empreendedorismo. Têm como missão ajudar as empresas a inovar, fomentar a criação de start-ups (através da inovação, incubação e potencial internacionalização) e promover o desenvolvimento económico através da criação de empresas e emprego. A DNA Cascais tornou-se BIC em março de 2011 e, em setembro do mesmo ano, aderiu à EBN.
Nadir Afonso
Mestre Nadir Afonso, aos 91 anos ainda pinta?
Eu penso que a perceção das coisas, aquilo a que chamam sensibilidade, essa, persiste. Não se esgota facilmente. Para lhe responder: o que eu faço agora é recapitular todo o trabalho de 70 anos. Eu sempre trabalhei, não fiz mais nada!
De maneira que olho [as telas] e a hipersensibilidade persiste ou até aumenta. A hipersensibilidade nota por vezes certos defeitos, certos erros [nos quadros] … porque a arte tem leis, ao contrário do que dizem os estetas – que a liberdade do criador é absoluta, que há liberdade do artista.
Sempre foi atento aos detalhes?
Exatamente, às leis que regem a obra de arte. E hoje passo em revista todo o meu trabalho.
E o que é que faz?
Ora aí é que está o “golpe de teatro”. Eu olho e muitas vezes sinto que há erros de composição e, então, retoco. Para responder: o meu trabalho hoje? Eu não faço nada de novo! Mas olhando para os quadros antigos eu vou retocando aqui e acolá. Às vezes sinto que o quadro atingiu o absoluto da sua composição. A composição está certa, olho, sinto prazer de ver as peças de maneira exata, harmoniosa,… Mas muitas vezes isso não acontece e sinto erros. E então retoco.
Quando diz que uma obra de arte tem leis, são leis universais ou de acordo com o seu autor?
Na essência são leis matemáticas. O artista universal - não o artista regional, que segue a originalidade – interessa-se pela exatidão matemática. E são essas leis que procura. Claro que os estetas não estão de acordo com isto. A meu ver, as leis essenciais da arte são leis de exatidão, universais. As outras não: são leis regionais, como a perfeição, a originalidade.
O conceito de perfeição de um português não é o mesmo de o de um chinês. Uma tulipa negra para nós tem originalidade, para um holandês não.
Formou-se em arquitetura antes de enveredar pela pintura.
Quando fui às Belas Artes do Porto, com 18 anos, levava debaixo do braço a minha inscrição como pintor. Tive a pouca sorte de encarar com um funcionário que viu que eu vinha de Chaves e diz-me: “então, com o curso dos liceus vai inscrever-se em pintura? Oh homem! a pintura não alimenta”. Isto há 70 anos.
Cobardemente aceitei a sugestão: rasguei a inscrição em pintura e fiz o requerimento para arquitetura…
Tirei o curso, fui para arquiteto mas fui sempre um desastre. Pintava desde os 4 anos. Tenho competência na pintura, mas nas diversas atividades que interessam aos homens, história, geografia, politica,… fui um “atrasado mental”. Só me dediquei a tentar compreender as leis da pintura.
A formação que teve de arquitetura ajudou-o a perceber essas leis de exatidão que defende serem as da pintura?
Talvez tenha razão, mas eu não sei. Estamos ambos a falar de uma faculdade que é o raciocínio, mas a arte não é racional. A arte é sentida. De maneira que para lhe responder sinceramente: não sei se o sentimento que eu tenho na pintura foi influenciado pela arquitetura.
Por volta dos anos 40, o mestre candidatou-se a um lugar de arquiteto na Câmara de Cascais, não foi?
Mas fui reprovado. (risos) Tive muita sorte! Senão estava a fazer arquitetura, como funcionário, tinha-me distraído da minha carreira de pintura. Assim, tive dificuldades económicas mas fiz uma obra. Isso foi importante, na minha opinião.
Há umas obras suas adaptadas em painéis de azulejos que forram as paredes de um túnel aqui em Cascais. Que pensa do enquadramento da sua obra naquele lugar?
Tive sorte. Não há dúvida nenhuma que quanto mais a obra do individuo aparece em público, mais ele é conhecido e mais se valoriza.
Gosta de ver a sua obra em contato com o cidadão comum?
Sim. Mas isso devo-o ao Dr. Capucho, ele é que se lembrou daquilo. Já lá fui várias vezes. Há dez de um lado, dez do outro e está bem escolhida.
Gostava de saber o que pensa da arquitetura da Casa das Histórias Paula Rego, conhece o edifício? O que lhe diz a sua sensibilidade sobre aquele edifício?
É horrível – a forma, a cor. Mas não há nada a fazer: sempre que saio da minha obra e me debruço sobre o trabalho de outros artistas não sou muito lisonjeiro. Acho a arquitetura execrável, mas já me habituei.
Agrada-lhe a ideia de um museu que consagre toda a obra de um artista? Ou só se for um Da Vinci?
Sim… Agrada. É melhor ter a obra de Da Vinci num museu do que misturada… E depois há uns críticos de arte que metem-se no negócio,… [silêncio] uma função que é responder às necessidades do homem… A arte da arquitetura tem de ser funcional, responder às necessidades do homem. A função da pintura é outra.
Até que ponto as suas raízes transmontanas influenciaram a sua arte?
Lá está! Como disse há pouco, a arte é intuitiva. Está a fazer uma pergunta à razão: haverá influência do meio sobre o artista? Não sei responder. Mas há indivíduos que respondem logo, já pensaram nisso.
Não sei até que ponto o meio social tem influência na criação… Mas a minha impressão é que não há interferência. Evidentemente que se um desgraçado não come, tem uma vida desgraçada, pode não criar uma obra – isso é evidente, mas não vou mais longe que isso.
Se estive em Paris trinta anos, é natural que haja influência – mas não sei.
É muito crítico do seu próprio trabalho?
Sim. Faço crítica a mim próprio. Ponho-me a namorar um quadro, o que pode demorar muito tempo. Às vezes faz-se luz no meu espírito e sinto que há um erro e retoco. Mas nem sempre. É como se fosse um puzzle. Eu penso que já fiz mais de mil obras. Se tiver duas dúzias de que gosto, já estou satisfeito.
Um quadro é uma obra aberta?
É… Mas às vezes sinto que atingi o absoluto. E fico surpreendido. Olho para quadros meus antigos e digo: Caramba! Acertei. Não há nada a pôr, nem a tirar.
Como é que é o processo de criar um quadro de raiz?
Oh!... certamente que pensou nessa pergunta hoje. Eu ando a pensar nisso há 60 anos. Não sei. Tenho uma tela branca. Não há nada. Posso começar por lhe meter um círculo, mas isso é arbitrário.
[Laura Afonso, mulher do pintor, explica: “As primeiras formas que são lançadas no papel são arbitrárias; depois a partir de uma certa altura criam-se relações entre elas, e umas formas chama outras. E é dentro desse chamamento que evolui o quadro.]
Qual é a relação desses quadros com os nomes que lhes dá?
Nalguns há uma sugestão direta, outros é porque há uma necessidade de identificar. Mas é inconsciente.
Faço um quadro e tenho de lhe dar um título, para o identificar. Num quadro, o título é secundário, não é essencial. O essencial é a matemática. Mas nisso ninguém acredita. Essas leis matemáticas não são aprendidas pelo raciocínio mas pela tal hipersensibilidade… Nós [artistas] formulamos uma relação de formas dentro das leis matemáticas.
Tem também publicado livros com reflexões – que escreve à mão -, onde diz coisas controversas como “a luz não tem velocidade constante”, “o tempo não existe, há apenas movimento e espaço”… Essa perceção adquiriu-a agora ou é algo que atravessa a sua carreira?
Está bem-feita a pergunta. Eu penso, mas não tenho a certeza, que tenho andado a meditar nisso há longos anos. Penso que o tempo não existe já há muitos anos, mas só aos poucos consegui traduzir em palavras esse sentimento. Hoje tenho já uns textos com uma solidez que o justifica. Ao encontrar-me em frente de uma tela vazia, sempre me interroguei e ainda hoje me interrogo: porque é que ponho um traço?
Já tem resposta para essa pergunta?
Andei muitos anos à procura, a sentir essa necessidade. Hoje tenho vários textos onde explico: há uma lei de exatidão que deve ter origem física. Eu sou impulsionado por um sentimento estético, mas esse sentimento deve ter uma causa física de procura de equilíbrio. Comecei a descobrir que essa exatidão tem origem nas leis (físicas) da gravidade – o caule da árvore, sobe vertical em direção à superfície da terra, que é horizontal.
Comecei assim a compreender que a essência das leis que regem a obra de arte são as leis da física que regem a natureza. Mas andei muitos anos a procurar isso. A essência da obra de arte, a meu ver, está nas leis matemáticas.
A criação também tem uma fórmula matemática?
É uma matemática intuitiva. Num círculo ela já aparece. Um círculo é uma forma que tem um ponto central equidistante dos pontos periféricos. O quadrado é uma figura cujo centro está a igual distância dos quatro lados e quatro ângulos iguais. O artista universal encontra as leis com a sensibilidade e não com o raciocínio. Com o raciocínio só se descobre o círculo, o quadrado…
Dos artistas plásticos mais conhecidos há nomes que mais aprecie?
… Max Ernst, Giorgio de Chirico, eles encontram muito bem as leis da geometria. Van Gogh também, mas pintava uma obra num dia e eu penso que, às vezes, é preciso namorar um quadro. Ele é um grande pintor mas às vezes metia água…. (risos)
A harmonia das formas é apreendida pela intuição. Há quem olhe para os meus quadros e não sinta nada, não lhe dizem nada.
Em compensação há mulheres – a mulher é muito mais sensível – que gostam da harmonia desses quadros.
Agrada-lhe o projeto de ter um centro cultural na sua terra de origem, Boticas e a sede da Fundação com o seu nome em Chaves?
Agrada. É prova de que há mais alguém que admira os meus quadros, e é já uma satisfação.
Rodrigo
Nasceu Rodrigo Ferreira Inácio mas ficou para sempre Rodrigo, quando a sua vida se cruzou com a carreira de fadista. Rodrigo nasceu na freguesia da Graça, em Lisboa, a 29 de junho de 1941 e é, sem contestação, “o fadista de Cascais”.
Aos 18 anos, integrou o projeto musical “5 Reis” que rapidamente ganhou notoriedade em programas de televisão. Cedo se interessou pela “canção lisboeta” no embalo das notas soltas do lendário Carlos Ramos. E com 21 anos Rodrigo entrou, pela primeira vez, numa casa de fados, a mítica “Cesária”, em Alcântara. Esse momento tornou-se, por si só, um catalisador de mudança no seu percurso. Nas palavras do próprio “que fenómeno este, tão estranho, que leva todos os presentes a transformarem-se quando se ouve o tocar duma guitarra acompanhando qualquer voz por muito rouca que seja e sentir que em tudo aquilo que se sente e ouve, há muito de Portugal?”
No início da sua carreira, Rodrigo recusava-se a ganhar dinheiro a cantar. Fazia-o por apelo e a hipótese de abraçar a canção de Lisboa como como profissão parecia-lhe descabida e improvável. Uns anos mais tarde, e regressado de uma temporada em França, estreia-se como profissional gravando o seu primeiro álbum. “A Última Toirada Real em Salvaterra” foi o trampolim de que precisava para se dedicar, definitivamente, à música como ofício. Durante mais de trinta anos reforçou a sua ligação ao concelho como proprietário de uma conhecida casa de fados de Cascais, o Forte de D. Rodrigo.
Essa foi a forma que arranjou para as pessoas poderem ir ao seu encontro, ao encontro da sua voz. Hoje defende ser uma das muitas profissões que teve e, pelas melhores razões de todas, a última.
De alguma forma, Rodrigo e o fado cruzaram-se por 50 anos e hoje o “fadista de Cascais” justifica a sua simplicidade de carácter defendendo que conheceu todos os espetros de pessoas nesta vila. A reciprocidade do carinho que tem por Cascais justifica-a, dizendo: “Fui sendo amigo de toda a gente. Desde os pescadores da praia do Peixe até aos Presidentes da República que tivemos, tive sempre facilidade em fazer amizades”. Protagonista de histórias e palcos vários, conta que um dia, depois de convidado para ir a bordo do iate da Rainha Isabel II de Inglaterra, se encontrou com a própria e conversaram, durante largos minutos, sobre fado. Nas palavras de Rodrigo: “Fiquei espantado com o conhecimento de fado que Isabel II tinha. Falava como se fosse aos fados todas as noites.”
Ao longo da sua vida, Rodrigo gravou 36 discos de longa duração, alguns dos quais chegaram a discos de ouro ou de prata, entre os quais se destaca «Marés de Saudade» (Novembro de 2002). Divulgador da canção consagrada recentemente “património imaterial da humanidade”, o fadista Rodrigo representou inúmeras vezes o nosso País em certames internacionais.
José Bento dos Santos
Qual é a sua ligação emocional a Cascais?
Desde que eu andava no IST (Instituto Superior Técnico) tinha colegas e amigos – o António Miranda, João de Deus Pinheiro e muitos outros – que eram daqui, de Cascais. Depois a paixão pelo golfe trouxe-me aqui ao Clube de Golfe do Estoril, há 30 e tal, 40 anos. Portanto, tive aqui uma ligação permanente e um conluio com toda esta região, com as suas potencialidades, com aquilo a que eu hoje me dedico tanto: a sua gastronomia, a praça de Cascais – eu vinha de propósito de Lisboa, à praça, para comprar os magníficos produtos que só há aqui.
Isso trouxe-me sempre uma ligação especial de muita proximidade a Cascais.
Hoje em dia o que lhe toma mais tempo? Ser gastrónomo, produtor de vinhos, ‘cozinheiro’, ou a atividade profissional como gestor/empresário (e broker) no setor dos metais?
Sou um cozinheiro amador, mas gosto muito de, todos os dias, se possível, treinar e fazer o meu jantar… Hoje essencialmente, a empresa continua a funcionar, tenho uma atividade nos vinhos, que é muito “a minha cara”, embora tenha o meu filho Francisco a tomar conta de toda a exploração, com uma equipa maravilhosa, na Quinta do Monte D’ Oiro - o que garante o funcionamento da quinta sem quaisquer problemas e com muito sucesso. Assim, pude dedicar-me a prestar quase um serviço cívico, relativamente a esta paixão da gastronomia, utilizando a oportunidade que foi dada pelo Turismo de Portugal – o programa Prove Portugal - a Academia Portuguesa de Gastronomia, onde sou presidente. Acabamos de produzir o Guia Galp, lançamos o slogan e fizemos o livro “Portugal - o melhor peixe do mundo”. Sou também presidente delegado da Academia Internacional de Gastronomia, ando pelo mundo inteiro relacionado com este fenómeno da gastronomia, da alimentação.
Inclusivamente há projetos aqui, para Cascais, no sentido de tornar esta área predestinada para o estudo do conceito do gosto. A Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril tem condições e pode ser remodelada como um centro único, como já existe em muitos países, para que os problemas da gastronomia, da alimentação mas sobretudo o gosto sejam estudados. E se entenda a gastronomia mais como um conceito do que como um conjunto de receitas.
Pode revelar alguns dos projetos que haja?
Há apenas ideias embrionárias que derivam de se ter percebido que, em Portugal, a questão do gosto é muito importante. Hoje a alimentação é um problema transversal a toda a sociedade. Nós temos que ensinar as crianças nas escolas a comer e a ter gosto. Hoje nem os EUA conseguem suprir os orçamentos de saúde face à má alimentação das pessoas, o que dá problemas terríveis – mas não é proibir, é trocar por dietas melhores. Nós temos a felicidade de estar num país que tem o melhor peixe do mundo, que tem produtos diversificados, que tem legumes magníficos… Se os soubermos trabalhar, se não os reduzirmos a meia dúzia, temos uma profusão e encontramos nessa alimentação um prazer novo. Não temos que nos basear nos hidratos de carbono que nos fazem mal; podemos ir mais longe. Eventualmente, nesta comunicação – é isso que gosto de fazer – poderá haver uma oportunidade para fazer um novo programa de televisão, onde se chama a atenção para os produtos portugueses, a sua grande variedade e qualidade, e onde possamos melhorar a nossa saúde, as nossas crianças possam comer melhor, havendo menos obesidade e menos doenças relacionadas.
Os seus programas de televisão caraterizam-se justamente por um pendor pedagógico e cultural, onde se trata a gastronomia…
Exatamente. Alain Chapelle, um dos maiores cozinheiros do mundo, escreveu um livro magnífico onde dizia que a cozinha é muito para lá das receitas. É verdade: a receita é muito restritiva, o importante é conhecerem-se os produtos, as suas potencialidades, o que vai bem com o outro alimento - tal como quando nos vestimos e combinamos cores, para uma harmonia, de forma a sentimo-nos bem.… Ao nível da cozinha há menos tempo para estar na cozinha mas, com a facilidade de equipamentos e de matérias-primas que temos hoje, cada pessoa pode combinar melhor os seus alimentos.
As conferências e palestras que tenho feito são também sobre alguns aspetos específicos: por exemplo, falar sobre vinho e música. No ano passado no Porto, antes da Quinta Sinfonia de Mahler ser tocada, houve um programa em que as pessoas “provaram” a sinfonia: para cada andamento houve uma pequena prova de alimentos, que tinha uma relação. Também houve na Câmara Municipal de Lisboa, há pouco tempo, uma conferência onde através do Prelúdio nº 4 de Chopin foi possível as pessoas provarem vinho do Porto e comoverem-se… Perceber que o vinho do Porto não é uma descrição de que cheira a isto ou aquilo, mas é qualquer coisa que nos entra na alma e é uma emoção.
Com o seu conhecimento como engenheiro químico encontra algumas semelhanças nesse gosto com a gastronomia, produção de vinho, etc. – são como que alquimias, não?
Há processos químicos,… mas a grande transformação do cru para o cozido, são essencialmente processos físicos, trocas de calor - naturalmente que isso provoca nas proteínas processos químicos. Não que eu tenha aplicado mas pelo menos é-me mais fácil compreender. Nós hoje temos muito livro e muita ciência para perceber o que se está a passar, quando já fazíamos as coisas empiricamente. Hoje conhecemos os fenómenos e podemos melhora-los. Essa é uma realidade que está a ser difundida nas escolas e pelos cozinheiros profissionais…
Sempre teve esse gosto pela gastronomia? Quando era miúdo tinha o desejo de ser um chef?
Sempre gostei de liderar e, desde a infância, que gosto de ir para a cozinha e tenho interesse em provar, ter este sentido do gosto, equilibrar. Sempre que podia ia sabendo um bocadinho mais. É muito importante a tertúlia, conversar com amigos. Sempre que se conversa, e pode-se conversar com pessoas que não têm nada a ver, há algo que nos vão ensinando e mostrando que a cozinha vai muito para lá das receitas.
Cascais, na sua opinião, é uma terra já suficientemente conhe-cida fora do país? Qual tem sido o seu papel como “embaixador” de Cascais, no sentido da tornar esta terra uma “marca” visível?
Em termos gastronómicos, recordo que, há alguns anos, havia um número inusitado de pessoas que vinha a Cascais para jantar. Talvez hoje não se verifique tanto esse apelo. Mas isso era importante: é preciso fazer algumas ações nesse sentido. Cascais tem uma oferta de restaurantes magníficos e isso permite sonhar que Cascais possa vir a ser o cento gastronómico do país - através dessas poten-cialidades, da sua escola, dos chefs que já aqui trabalham, das pessoas que aqui vivem, mas também é preciso que isso seja sentido e assumido por quem está em Cascais e por quem visita. E parece-me que as condições são facilitadoras.
Aos 25 anos era selecionador nacional de râguebi e chefiava equipas de operários na CUF. Numa entrevista disse: “durmo pouco mas vivo permanentemente entusiasmado”. Agora dedica-se mais aos vinhos e aos livros. Começou cedo a ser um líder de equipas e agora aos 65 anos refreou esse ritmo?
Não. Sou um desassossegado por natureza. E continuo a viajar, muitas vezes vou e volto, não fico tanto tempo… mas continuo a viajar. Vou proximamente a Barcelona e lá irei à praça, com certeza. Desloco-me muitas vezes para ir ao tal local ou ao restaurante, ou a qualquer sítio que tenha relação com a gastronomia. Antigamente aproveitava viagens internacionais para fazer a extensão de um dia e ficar.
Tem saudades do râguebi ou transferiu esse gosto para o golfe?
São duas atitudes completamente distintas. O râguebi é um desporto completamente único. E toda a gente que jogou râguebi sabe disso. Durante a minha vida aconteceu a profissionalização do râguebi; mas entre o râguebi amador e o râguebi profissional há, de fato, uma grande barreira: manteve-se o espírito, manteve-se o conceito, a atitude das pessoas, mas a profissionalização – não diminui o fair play – trouxe para o râguebi a força, a potência com que hoje se joga.
E o golfe?
Continua a ser um desporto de exceção. Tenho pena que não esteja generalizada. Embora o golfe, para latinos, seja sempre um bocadinho problemático: porque a pessoa tem que assumir que o golfe é um jogo impossível! Falava há uns anos com um grande profissional e campeão, que me dizia: “mas eu, numa volta de golfe, se bater uma ou duas bolas daquelas que mexem o coração é tudo...”.
Também disse que a reforma não lhe assenta bem. E chegou aos 65 anos…
Cheguei aos 65 anos formalmente. Acabei de me reformar mas, há uns dias estava com o meu médico e tinha-lhe transmitido isso. Ele deu um pulo da cadeira e disse: “Mas você não se pode reformar!”.
Reformei-me mas estou com muita vontade de fazer muita coisa. Sobretudo agora, que sou avô de um neto pequeno, não só para ele mas para outras crianças, tenho muita vontade de ensinar-lhes a questão do gosto, da música, da cultura, da pintura. Transmitir a crianças este saber acumulado, que é a única coisa que eu hoje posso fazer: transmitir algum deste saber acumulado a terceiros.
Obras finalistas do Prémio Mies Van der Rohe para ver até domingo na Marina de Cascais
De uma primeira seleção de 343 projetos, o júri escolheu 38 “exemplares obras arquitetónicas”, que foram incluídas num catálogo e integradas na exposição itinerante desta edição, por representarem, segundo Lluis Hortet, diretor da Fundação Mies van der Rohe e secretário do júri, “o melhor do que foi produzido nos últimos dois anos, que será a herança do património arquitetónico amanhã”.
A Casa das Histórias Paula Rego, de Eduardo Souto de Moura, e a Praça D. Diogo de Menezes, de Miguel Arruda, ambos localizados em Cascais, partilham a honra com a Ponte Pedonal sobre a Ribeira da Carpinteira, desenhada pelo arquiteto João Carrilho da Graça, na Covilhã.
Para além de painéis documentais com informação e imagens de todos os projetos que integraram a shortlist, esta exposição, que já passou por cidades como Paris e Leuven, apresenta ainda três documentários, em permanente projeção, sobre a obra vencedora – o Neues Museum (Berlim), de David Chipperfield em colaboração com Julian Harrap -, o projeto galardoado com uma “Menção Especial Arquiteto Emergente” - Casa Collage (Girona), de Ramon Bosch e Bet Capdeferro, bem como um vídeo que reúne uma compilação de imagens de todos os projetos selecionados.
PARTICIPE NO PASSATEMPO ERP REMEMBER CASCAIS









