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Alexandra Hedison no Centro Cultural de Cascais

O Centro Cultural de Cascais quer dar a conhecer uma outra faceta de Alexandra Hedison. Trata-se de um tributo, tanto à película quanto à importância da memória, num trabalho de fotografia documental sobre a ideia de narrativa mutável - reflexo da história pessoal da artista, da sua memória e da própria essência do tempo e mutabilidade de um lugar.
Alexandra Hedison foi atriz de cinema e televisão nos Estados Unidos da América durante mais de 15 anos. O fascínio pela fotografia veio a relevar-se mais forte e é, hoje, uma reconhecida artista plástica, com um portfólio exibido internacionalmente.
Uma máquina fotográfica Contax T2 fez com que Alexandra Hedison se dedicasse a explorar a imagem estática e em 2002 a Rose Gallery, em Santa Mónica, Califórnia, exibiu a primeira série de fotografias da artista.
Longe de se aproximar do ideário da fotografia americana de retrato ou representação dos movimentos sociais, Hedison tem vindo a criar a sua própria linguagem. Os temas que explora repercutem-se, em cada imagem, no encontro direto entre o indivíduo e a imensidão da paisagem, tanto arquitetónica quanto natural. Ambientes comuns, detalhes geométricos e diagonais que se intersetam, criando uma composição expressiva, tanto visual quanto subliminar.
O exercício de fotografar e de criar imagens também se insere numa narrativa própria da artista. A película e os grandes formatos analógicos são um recurso, embora também utilize a máquina digital.
Alexandra Hedison prefere trabalhar o enquadramento da fotografia, em vez de alterar a sua composição, ou seja, não recorre à pós-produção.
A sua linguagem é, portanto, criada por meio de uma disciplina técnica que se estabelece no momento em que capta a imagem. O tempo, a repetição, a observação, o enquadramento e o momento efémero em que a fotografia se regista na película fazem parte de uma narrativa ou da ideia de storytelling.
Reconstruir a memória
Em criança, debaixo da casa de praia dos pais, Alexandra Hedison observava o vaivém das ondas, a contemplação e o confronto com a paisagem tão dramaticamente mutável de Malibu.
Passados muitos anos, Alexandra Hedison rumou a Malibu em diferentes estações do ano, levando consigo as máquinas fotográficas. Durante quatro anos, aguardava pelos momentos em que a natureza e a arquitetura do lugar traziam vividas imagens e memórias.
Aproveitando as estações, as tempestades de inverno, os ciclos das marés que alteram a configuração das areias, e registando o efémero repetidamente, Hedison compôs a exposição Everybody Knows This is Nowhere, reminiscências de paisagens que essencialmente nunca permanecem iguais, tal como as memórias que se reavivam nunca voltam com o mesmo impulso.
As fotografias que o Centro Cultural de Cascais expõe refletem o expressionismo e o traço contemporâneo da artista. Mapeiam não só uma geografia, mas também uma geometria que emerge da composição da natureza e da arquitetura daquele lugar. Tanto representam os ciclos de mudança da natureza como o percurso da memória sempre transitável. São imagens simultaneamente vívidas e abstratas, subjugando a paisagem a cores e composições surreais, camadas que se sobrepõem, mais ou menos visíveis, e que no processo de repetição se tornam a própria memória.
Como resultado, a combinação entre a técnica e a temporalidade convida o espetador a ler a narrativa da história de um lugar, porque as próprias imagens têm um tempo de existência que se desloca ao longo das estações dos anos em que a fotógrafa as realizou.