Está aqui
A Brincadeira Liberta | Conclusões do Mês do Brincar












Para firmar as suas convicções, as crianças escolheram este último dia do mês do brincar para promover uma reunião. Em formato de assembleia – leia-se sentadas em círculo em pleno palco – deram corpo ao Sindicato das Crianças.
Moderado por pela escritora Isabel Stillwell, o Sindicato das Crianças procurou fazer aquilo que os sindicatos fazem na vida real: lutar pela promoção dos diretos, neste caso, das crianças. Para tal, lançou-se o debate com as seguintes questões: “Brincar deve ser uma prioridade? Os Trabalhos para casa servem para quê? E cumprem essa finalidade? Há tempo para brincar? Saber fazer nada é importante?”
A ajudar à discussão estiveram Adelino Calado, diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos, Eulália Alexandre , subdiretora da Direção Geral de Educação e Magda Morbey, Encarregada de Educação.
Dadas por vários “sindicalistas de palmo e meio” entre os 4 e os 10 anos e de diferentes anos de escolaridade, as respostas, inequívocas, foram anotadas pela Beatriz e pelo Tiago, da Associação de Estudantes da Escola Básica Fernando José dos Santos, em jeito de síntese:
– Pode haver castigos, mas tem de se conversar um bocadinho
– Brincar é um direito.
– Não deixem organizar os recreios.
– O recreio não é um espaço de castigo
– Os castigos são chatos porque ficamos sem brincar.
– Em vez de ficarmos sem intervalos, devíamos, por exemplo, ter mais uma aula de que gostemos menos
– O professor deve mandar no tempo
– Os adultos dão o brinquedo já brincado
– É bom fazer asneiras para sermos corrigidos e irmos aprendendo
– As crianças não gostam que os adultos lhes troquem os nomes
Em suma:
– Os adultos já não deixam os filhos serem livres Os pais/professores são protetores demais
– As crianças querem brincar mais
Conclusões de quem sente na pele a necessidade de brincar.
Mas, afinal, para que serve brincar?
Eduardo Sá, psicólogo responde justamente a essa questão numa comunicação que fez chegar à sessão de encerramento do Mês de Brincar.
Ao longo de um texto que pode ler na íntegra aqui, Eduardo Sá alerta para a pouca importância que os pais dão ao Brincar, “sempre colocado em segundo lugar” quando comparado com o trabalho. “Como se o trabalho fosse útil e o brincar servisse, unicamente, para ‘arejar’ a cabeça (…) ou, como se trabalhar nunca fosse divertido”. O psicólogo explica as razões que podem estar na origem da pouca atenção dada à função do Brincar, como por exemplo, o facto de os pais terem sido “muito menos crianças do que desejariam ter sido”. Mas, para que serve Brincar? Numa extensa resposta à pertinente questão Eduardo Sá provoca esse mundo cinzento: “brincar é mais importante para o aprender do que talvez o aprender para o brincar”, ou “as crianças já trabalham demais. Comparativamente, trabalham muito mais que os pais!! Em termos relativos e em termos absolutos”.
Para a mesma questão Carlos Neto, professor da Faculdade de Motricidade Humana, presente no painel encontra no Brincar o antídoto ideal no combate ao cinzentismo das nossas vidas: “Os portugueses andam infelizes e cansados e a forma de combater isso é Brincar”, disse. Também o investigador, consultor e formador nas áreas do jogo e da participação infantil, Frederico Lopes falou da qualidade do Brincar e das seis qualidades que devem ser consideradas: “Os adultos devem dar Espaço, Permissão, Liberdade e Tempo, para que as crianças possam ter brincadeiras Flexíveis e Divertidas”, e lançou um apelo: “Precisamos de viver mais devagar e de libertar as crianças porque ao libertarmos as crianças vamos libertar os adultos”, concluiu Frederico Lopes.
Ora foi desta desaceleração necessária na sociedade que o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras falou na sessão de encerramento. “Precisamos de desacelerar” disse o autarca, alertando para as cidades construídas “sem espaços para brincar”, assumindo as responsabilidades do poder delegado democraticamente, neste caso o poder local, para “ajudar a construir projetos de felicidade”, designadamente facultando condições que proporcionem às pessoas a possibilidade de experimentarem momentos de felicidade, mas também se referiu à importância das pessoas encontrarem a felicidade nas coisas simples. Isto é uma desaceleração que permita viver essa felicidade: “Ninguém consegue estimar qual o valor de um pôr-do-sol no nosso litoral”, conclui Carlos Carreiras.
FH/HC