O preço de um vestido novo

Os pontos de costura, às vezes, são como sorrisos: unem, dão forma e cumprem sonhos. Otelinda Candeias, por exemplo, depois de uma vida de trabalho, numa fábrica e em laboratórios farmacêuticos, reformou-se e decidiu dedicar-se à costura. Não porque sentisse uma particular vocação para a confeção de roupa, mas por essa sua atividade lhe dar um novo sentido à vida. “Saber que estou a costurar um vestido que amanhã vai ser dado a uma criança sem possibilidade de o adquirir dá-me um imenso prazer”, diz sorrindo.

O sorriso especial de Otelinda começou em 2019 quando, na Murtosa, Aveiro, aprendeu a costurar no evento que foi o pontapé de saída para a Associação “Dress a Girl Portugal”. Hoje está no Mercado da Vila, em Cascais, com o seu grupo de costureiras voluntárias, a participar no segundo evento da organização em Portugal - abraçado pela autarquia de Cascais.

O sorriso repete-se com Elmiro, o único homem naquele mar de costureiras solidárias. Elmiro é açoriano, está reformado, e aprendeu a costurar ajudando a mulher, que também ali marca presença. Ora, o sorriso de Elmiro também é indisfarçável, há ali também um sonho cumprido.

Falando ainda de sorrisos. “Em muitos lugares aonde nós chegamos as crianças pegam nas roupas, cheiram-nas e dizem sorridentes: - É roupa nova!”, conta Vanessa Campos, presidente da Associação Dress a Girl, Portugal. “Para estas senhoras costurar para uma criança é sempre um prazer e uma alegria. Até me dói de satisfação saber que isso também lhes faz bem a elas”, acrescenta Vanessa.

Ora estes sorrisos, como percebemos, unem pessoas de diferentes idades, de diferentes realidades e cosem sonhos bem diferentes. Otelinda e Elmiro cumprem um sonho depois de uma vida de trabalho. Provavelmente as meninas que irão receber os vestidos ou os meninos a quem serão entregues os calções ali confeccionados, cumprem um sonho que também nos faz doer: vão usar pela primeira vez na sua vida uma roupa nova. E aqui, diz a vereadora da Câmara Municipal de Cascais Joana Balsemão, “há uma outra palavra que se junta à palavra solidariedade, que é a palavra dignidade!”.CMC/HC/BN/AG