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Entrevista Ruy de Carvalho: "A Cultura é o pão do Espírito"

"Ainda me considero um rapaz de hoje"

Quem se cruza com Ruy de Carvalho não lhe adivinha a idade. Aliás ele é um homem de muitas idades, como ele próprio admite: A idade no cartão de cidadão diz 94 anos; mas, a idade do seu espiríto é a de um jovem cheio de projetos que faz jus à peça "Rapazes de Hoje" com que iniciou a sua carreira profissional, em 1947, no Teatro Nacional.

"Eu considero-me sempre rapaz, eu sem olhar para o espelho acho que sou novo. A energia está dentro de nós, a juventude está dentro de nós e o espírito não envelhece", admite o ator que esteve em Cascais para inaugurar a exposição "Retratos Contados", no Espaço Memória do Teatro Experimental de Cascais (saber mais sobre a exposição aqui).

À inevitável questão sobre o segredo para ser o ator mais velho ainda em plena atividade, Ruy de Carvalho é peremptório; " A Cultura é o pão do espírito e eu alimento muito bem o meu!" e recorda que sendo a mãe pianista e concertista e os irmãos atores, sempre viveu rodeado de Cultura que aprecia em todas as suas áreas. Ressalvando sempre a importância de consumirmos sempre o mais possível de Cultura e de, como público, ajudarmos os artistas portugueses. 

"Vivi sempre no meio do espetáculo, sobretudo de Teatro. O que não deixou de me fazer amar todas as outras artes, do bailado, da música, a pintura, a escultura, tudo isso são artes que me enchem o coração. Acho que este conjunto se chama a arca do tesouro do povo. Um povo que tenha uma arca cheia com estas coisas é um povo rico. E eu espero que o nosso povo comece a pensar nisso e que encha a arca cada vez mais com bom gosto", afirma o ator cuja carreira atravessa dois séculos. Fez Teatro, Teatro Radiofónico, Cinema e Televisão e teve um percurso notável em todas as áreas. A sua interpretação do Rei Lear, de William Shakespeare, nas comemorações dos 150 anos do Teatro Nacional e dos 50 anos de carreira valeu-lhe várias distinções, incluindo o reconhecimento internacional. 

Nascido numa terça-feira de Carnaval, a 11 de março de 1927, Ruy de Carvalho já vestiu inúmeras máscaras mas quando lhe dão a escolher entre "a vida no palco" ou "o palco da vida" ele nem hesita: "Escolho sempre o palco da vida" e refere o amor com que sempre desempenhou os diversos papéis que a vida lhe trouxe: de marido, de pai, de avó e agora também de bisavô.

Também no Teatro Experimental de Cascais, Ruy de Carvalho deixou a sua marca. A sua estreia no TEC fez-se com “Os irmãos Karamázov” de Fiódor Dostoiévski, encenado por Carlos Avilez, onde contracenou com os finalistas da Escola Profissional de Teatro de Cascais que prestavam o seu exame final. Aliás, o consagrado ator sempre deu uma mão aos jovens artistas e considera haver "imenso talento" nesta nova geração de atores portugueses.

"É preciso dar um grande ânimo aos jovens. Escolher a profissão de Teatro em Portugal não é fácil. Não é fácil em casa e não é fácil na vida, é uma grande luta. Portugal precisa realmente de ser ajudado nesse aspeto. O povo português tem que ajudar os artistas e aqueles que querem ser artistas", refere Ruy de Carvalho.

Sobre os tempo difíceis que a Cultura está a atravessar devido à pandemia de Covid-19, o ator não hesita em deixar o apelo: " Esta pandemia tem mostrado que as pessoas têm necessidade de ver coisas que alimentem o espírito. Tenho trabalhado sempre para casas esgotadas que é uma coisa que me dá um grande prazer e uma grande honra, foi uma coisa que me deu um grande alento. Espero que esse alento chegue para ajudar o Teatro e todas as Artes em Portugal".

PL | BN | CMC

Fotos: João Lamares

 

 

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