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Cascais presta homenagem a Carlos Avilez

Carlos Avilez: “Nunca procurei ser provocador e transgressor, mas fui”

Carlos Avilez, figura incontornável do teatro português, ficou a partir desta sexta-feira, 19/01, ligado, eternamente, a Cascais. O Auditório no icónico edifício Cruzeiro - Academia de Artes, leva agora o seu nome. Reabilitado pela Câmara Municipal de Cascais, para se tornar numa academia dedicada às artes performativas, este era o grande sonho que Avilez acalentou durante muitos anos e que, felizmente, se concretizou, ainda, em vida do encenador. As lágrimas que Carlos Avilez deixou timidamente mostrar, no dia da inauguração do novo Cruzeiro, a 28 de janeiro de 2023, ficarão para sempre na memória dos presentes, mormente na recordação dos seus alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais, dos seus pares na lides teatrais e dos muitos cascalenses que admiravam a perserverança, mas também rebeldia, de quem nunca não só não deixou o Teatro morrer, como contribuiu para a sua renovação e reinvenção ao longo da sua longa carreira.  

"Transformar o icónico edificío Cruzeiro numa academia de artes performativas era um sonho de há muito que partilhava com Carlos Avilez", confessou Carlos Carreiras, presidente da CM de Cascais, durante a homenagem ao encenador. O autarca deixou a garantia que não só o Teatro Municipal Mirita Casimiro era para continuar, como iria garantir que "o TEC irá prosseguir com o seu projeto muito depois de nos irmos todos embora", assim como a "remodelação e expansão da EPTC" que agora tem também residência na Academia de Artes do Estoril, em conjunto com o Conservatório de Música de Cascais e com a Escola de Dança Paulo Ribeiro. 

Auditório Carlos Avilez completamente cheio nesta homenagem ao homem que deu a vida pelo Teatro, apaixonadamente. Que inspirou gerações de atores e encenadores, que fez despoltar talentos e que, como ninguém, contribuiu para que o Teatro continuasse vivo,a pesar das sucessivas ameaças que enfrentou ao longo do tempo. A prova disso eram as salas sempre cheias de público, de todas as idades, a cada novo espetáculo do Teatro Experimental de Cascais. Companhia de que foi co-fundador, em 1965, com Maria do Céu Guerra, João Vasco e Zita Duarte. Sendo hoje a companhia de teatro em atividade há mais tempo na Europa. 

Carlos Avilez estreou-se profissionalmente ainda antes dos 20 anos como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963, mas seria na encenação que deixaria marca profunda.

Em 1963, causa escândalo e admiração em doses iguais a sua A Castro, de António Ferreira, na Guilherme Cossoul, em Lisboa, com os atores vestidos com roupas contemporâneas, algo raro à época, e o coro feminino do original transformado em coro masculino – neste período, encena também no Teatro Experimental do Porto e dirige o CITAC, em Coimbra. Em 1965, está na Guilherme Cossoul a ensaiar a Esopaida, de António José da Silva, O Judeu, quando sabe da existência de um teatro desocupado em Cascais, o Gil Vicente.

Meses depois, em novembro, nascia o Teatro Experimental de Cascais. Foi a primeira companhia profissional portuguesa a trabalhar fora de Lisboa e do Porto. Rompendo com as formas mais convencionais de encenação, tornou o TEC uma referência. E, em tempos de ditadura, uma companhia seguida atentamente pelo Estado Novo.

Em 1970, depois de uma encenação de Breve Sumário da História de Deus, com Mário Viegas e Fernanda Alves, o TEC fica impedido de levar as suas peças para fora do Teatro Gil Vicente – de nada valeu argumentar com as autoridades que não interviera no texto, que as palavras eram todas de Gil Vicente. Três anos depois, a censura proíbe No Tempo dos Assassinos, de José Triana, numa encenação de Jorge Listopad, na véspera da estreia.

Em 1993, fundou a Escola Profissional de Teatro de Cascais onde foi professor até ao fim da sua vida. Escola de que muito se orgulhava, onde viu nascer grandes atores e encenadores que dão continuidade ao seu trabalho não só em Cascais, como por todo o país e além-fronteiras. 

Agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, assumiu, enquanto presidente do IAC, a direção do Teatro Nacional D. Maria II, mas o TEC seria para sempre a sua casa. A última peça que encenou foi Electra, de Eugene O’Neill que estreou apenas quatro dias antes do seu falecimento, a 22 de novembro de 2023.

Esta sexta-feira estreou-se, já no Auditório Carlos Avilez, a primeira peça após o seu desaparecimento. "A Andorinha" do espanhol Guillem Clua, com encenação de Cucha Carvalheiro e Luísa Cruz e José Condessa como protagonistas. Porque "por morrer uma andorinha, não acaba a primavera", como diz a canção. "The show must go on"! (O espetáculo tem que continuar). As pancadinhas de Moliére vão fazer-se ouvir por muitos anos no Auditório Carlos Avilez. O Teatro está bem vivo em Cascais. 

CMC | PL

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