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Eli Rosenfeld, rabino: “Vamos partilhar brinquedos do Hanukkah com as crianças de Cascais”

Dia 20, a partir das 17h30, todos estão convidados para o Hanukkah na Baía de Cascais

Texto: Humberto Costa | Foto: Bernardo Nunes

Foi na biblioteca da Casa Chabad que Eli Rosenfeld, Diretor da Associação Chabad Portugal, com sede em Cascais, lançou o apelo: “Convido todos à celebração do Hanukkah em Cascais!” O convite à participação na festa das luzes da comunidade judaica de Cascais, é particularmente para o dia 20, a partir das 17h30, na Baía de Cascais, mas o Hanukkah este ano decorre entre 18 e 25 de dezembro. Eli Rosenfeld, em entrevista ao C, falou também da memória única que pode ser visitada na biblioteca da Casa Chabad, desde o primeiro livro impresso em Lisboa, em 1489, até um visto assinado por Aristide de Sousa Mendes, passando pela primeira edição, com 500 anos, do livro escrito de memória pelo Rabino Abraham Sabah, “Tseror Hamor”, cuja primeira versão ficou enterrada debaixo de uma oliveira em Guimarães e nunca foi descoberta.
A nossa conversa começou exatamente na biblioteca da Casa Chabad e terminaria na sala ao lado aonde Eli Rosenfeld explicaria, em pormenor, alguns dos momentos do Hanukkah. 

Este ano a comunidade judaica celebra pelo décimo ano consecutivo o Hanukkah em Cascais?
Sim, é um ano muito especial porque é um número redondo. E nestes últimos anos a comunidade tem crescido rapidamente. Mas há raízes fortes dos judeus aqui em Cascais. Recentemente chegou-me às mãos uma imagem que faz parte de uma ficha da Inquisição, documento que está na Torre do Tombo, de um Menorá desenhado em 1604 por Bento Rodrigues, um judeu de Cascais. Isso prova que as tradições da celebração do Hanukkah em Cascais têm uma longa história.

E quais os momentos mais marcantes da comunidade nestes últimos dez anos? 
Os últimos 10 anos foram repletos de momentos especiais. Desde logo o primeiro ano, quando a nossa saudosa amiga Patrícia Westheimer solicitou à Câmara Municipal de Cascais autorização para a celebração do Hanukkah. Depois, o ano em que o presidente da Câmara, Carlos Carreiras, durante a celebração do Hanukkah, anunciou a construção da Casa Chabad ou, mais tarde, aquando da primeira celebração do Hanukkah com a Casa Chabad já construída. Foram todos momentos extraordinários para a comunidade. Mas, na verdade, estes dez anos estão repletos de momentos particulares.
Este ano o Hanukkah é comemorado entre 18 e 25.  É mera coincidência, mas calha exatamente na comemoração católica do Natal. Tem a mesma importância para a comunidade judaica?
A data do Hanukkah segue o calendário judaico. O calendário judaico está ligado aos ciclos da Lua, por isso às vezes acontece no início de dezembro, ou no fim de novembro e outras vezes no fim de dezembro. Isto é, não tem uma data fixa. Este ano será mais ou menos no meio de dezembro, começando no domingo de 18 de dezembro e terminando no outro domingo, a 25 de dezembro.

Nestes 8 dias o que é que a comunidade faz verdadeiramente?
A parte central do Hanukkah é o acender das velas, o que se faz só à noite, porque a ideia do Hanukkah é partilhar a luz onde ela não existe. Acender uma vela por noite. Na primeira noite acendemos a primeira. Temos comida feita em azeite, porque a festa é o milagre do azeite. Quando os judeus regressaram a Jerusalém, depois de os gregos antigos terem saído, encontraram só uma única ânfora com pouco azeite puro para acender o Menorá no templo. O milagre é que esse pouco azeite durou os oito dias e conseguiu acender o Menorá durante esses oito dias. E, por isso, os muitos tipos de comida nesta celebração são cozinhados em azeite. Os Dónuts, por exemplo, em hebraico Sufganiyot, ou os Latkes. Durante a celebração também há o costume de partilhar com as crianças o dinheiro do Hanukkah, para estimular as crianças a partilhar com os outros. 

E como vai ser a celebração deste ano?
Este ano tomamos a decisão de partilhar a festa. Criamos um programa para trazer presentes do Hanukkah para as crianças do bairro. Em conjunto com a União das Freguesias Cascais Estoril vamos partilhar presentes com as crianças de Cascais. Queremos que este ano todos participem nesta celebração.  E por isso quero convidar as pessoas a participar neste Hanukkah. A parte principal desta celebração deste ano vai ser no dia 20 de dezembro, terça-feira, às 17h30, vai ter um cantor de Israel que vai fazer um pequeno concerto, vamos ter lá vários tipos de comida judaica e, por isso, quero convidar todos a participar. Para os restantes dias do Hanukkah, teremos durante todo o dia uma tenda na Baia de Cascais, com todas as velas, Menorah o pião do Hanukkah, o sevivon e os jogos. Qualquer coisa que precisem para celebrar o Hanukkah nós temos lá. Será o nosso Hanukkah House.

Falemos agora um pouco desta casa, designadamente desta biblioteca que guarda aqui algumas preciosidades.
A casa Chad tem também a designação de Vida dos Judeus e Centro de Aprendizagem. É uma base para a vida judaica e assinala vários momentos da vida. Tem a parte destinada à vida familiar, tem uma outra para o estudo, para a cultura e no edifício temos dez pontos: três pontos que são expressões da vida judaica, mas todo o edifício foi construído para dar espaço aos diversos momentos de modo a que as pessoas visitar e nele participar. Por exemplo, aqui na biblioteca, temos livros e documentos organizados por ordem cronológica que vai desde o  século XV, até hoje. Temos, por exemplo, um passaporte de Adel Wanderberg com um visto assinado por Aristides de Sousa Mendes. E nas obras dos rabinos de Portugal verificamos que muitas cidades portuguesas são mencionadas: Viana do Castelo, Guimarães, Figueira da Foz e muitas mais. Em qualquer local do país temos sinais da presença destes rabinos que viveram aqui há muitos anos.

E como carateriza esta comunidade judaica de Cascais? De onde vêm?
Especificamente a comunidade judaica em Cascais vem de todo o mundo. Mas, como diz o presidente Carlos Carreiras nós aqui não temos estrangeiros. Somos verdadeiramente uma família.
Famílias com uma história muito antiga.  
Há dois meses entraram aqui pessoas vindas de Israel e, depois de falarmos um pouco, soube que o nome de família de um deles era Yahia Bin Yahia, ou seja era da família do rabino que fez parte da corte de D. Afonso Henriques. Fiquei em choque. E, algum tempo depois entrou aqui uma outra pessoa cujo nome de família é o de Abravanel, a família do famoso Isac Abravanel também ele um rabino de Portugal. E quando lhes mostramos, por exemplo, livros que fazem referência a esses seus antepassados, é muito emocionante ver as suas reações.

Esta biblioteca da Casa Chabad tem efetivamente muitas preciosidades?
O propósito desta biblioteca, assim como de toda esta casa em geral é o de partilhar. Nesta biblioteca, por exemplo, temos livros que são a herança dos judeus em Portugal, mas na verdade são também a herança da população portuguesa. Porque temos aqui documentos com muito significado para o público em geral. Duas páginas do livro Leiria de 1494, pouco tempo antes da expulsão dos judeus de Portugal.
Fale-me de mais alguns desses livros.
Por exemplo, o primeiro livro impresso em Lisboa no ano de 1489. Mas temos, aqui um livro que, para mim, é a expressão desta biblioteca. Chama-se Tseror Hamor, escrito pelo Rabino Abraham Saba (1440 – 1508). Abraham Saba chegou a Portugal em 1492 e durante cinco anos viveu em Guimarães e escreveu comentários sobre o Torah. Mas em 1497, com a expulsão dos judeus de Portugal, era impossível manter os escritos hebraicos e tomou a decisão de deixar os escritos enterrados debaixo de uma oliveira, com a ideia de depois voltar e recuperar o livro. Isso foi impossível e esse livro ficou lá até hoje. Depois do Rabino Sabah chegar a Marrocos decidiu escrever o livro de memória. É esse livro, impresso em Veneza exatamente há 500 anos, publicado em 1523 que nós temos aqui, a sua primeira edição. Uma coisa emocionante.

O Rabino Eli Rosenfeld tem também uma obra publicada sobre os judeus em Portugal? Vozes Judaicas de Portugal. O que é essa obra?
A ideia deste livro é para simplesmente dar voz a rabinos que aqui viveram há muito tempo e ninguém sabe nada sobre eles. Foi uma forma de os dar a conhecer. Viveram aqui, escreveram aqui e alguns morreram em Portugal e ninguém os conhece. Esse livro dá a possibilidade de conhecerem os seus pensamentos.

Cascais Digital

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