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Paula Guimarães

“Num momento de crise social grave pode haver a ideia de que o voluntariado é uma panaceia,… que não é.””

Paula Guimarães lidera o Gabinete de Responsabilidade Social do Montepio, associação mutualista que é também uma organização empresarial. Em paralelo, participa ativamente no GRACE - Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial. Paula Guimarães esteve em Cascais a falar de voluntariado, numa perspectiva de formação, tendo acompanhado de perto o lançamento do Programa de Voluntariado corporativo do município de Cascais.

Faz parte parte do ADN do Montepio a responsabilidade social?
Sim. Se bem que a nossa governance também é diferente: as empresas têm acionistas, nós temos associados; os conselhos de administração das empresas
não são eleitos, o nosso é. O nosso processo de democracia interna, de organização e estruturação é claramente diferente. Há dimensões do grupo Montepio que são de matriz empresarial, como a Caixa Económica, ou as seguradoras, ou as residências Montepio... De qualquer maneira, o que preside ao Montepio no  seu todo é uma lógica de economia social, empreendedora, bem organizada. 

O gabinete de Responsabilidade Social foi um passo natural na evolução da organização?
Absolutamente. Foi necessário criar o gabinete como unidade orgânica que se preocupasse em fazer o rastreio das práticas e promovesse uma orientação de
responsabilidade social coerente, em todos os domínios. Mas também para dar apoio técnico à fundação Montepio, que é uma IPSS, e que se destina a distribuir
para a comunidade proveitos provenientes da associação mutualista.

O voluntariado é apenas uma das vertentes desse ‘chapéu’ da responsabilidade social?
Exacatamente. Era preciso que os  nossos colaboradores saissem da redoma e percebessem o mundo que estava lá fora; por outro lado, era preciso descobrir as competências pessoais que os colaboradores têm e que, no quotidiano, nem sempre conseguem florescer. Por outro lado também, sabemos que um colaborador solidário, que tenha sensibilidade social, é um melhor colega e um melhor trabalhador. Houve, portanto, um conjunto de sinergias.

Quantos voluntários têm?
Estão 800 inscritos, o que não nos deixa, de forma nenhuma, satisfeitos. Não chega aos 10%. Para nós é um grande desafio apesar de o número de voluntários
ter crescido 27%. O voluntariado também tem mais valor quando é um processo de alastramento espontaneo e gradual. Desconfio muito quando me dizem que todos os trabalhadores de uma empresa são voluntários, porque isso significa que há certa pressão para que participem nessas actividades.
No nosso caso, isso não acontece. O facto de sermos uma organização de âmbito nacional faz com que não tenhamos ainda conseguido oferecer a todos os colegas ações de voluntariado. Demora mais tempo a alastrar... Estamos convencidos que é um processo irreversível e será sempre para crescer: cada colega
traz mais dois ou três...

Como é que funciona? Cruzam o banco de voluntários com os pedidos das empresas?
Temos uma ficha de inscrição na base - intranet - e assim temos uma noção dos inscritos por área geográfica e também as suas preferências. Depois, através
da Fundação Montepio temos um apanhado dos pedidos das instituições - uma média de 130 pedidos de apoio de todo o país. Fazemos o anúncio de uma ação
de voluntariado para um dia específico, com um programa definido e número de voluntários necessários. Temos também o voluntariado de competências, nomeadamente de formação e educação, através do nosso programa de educação financeira para crianças, e em actividades relacionadas com o GRACE e com a Junior Achievment. Aí pedimos aos colegas um perfil mais específico, e o voluntário tem um plano para cumprir, de voluntariado de competências, com alguma definição de tempos, que ele escolhe. Temos também ações de voluntariado de competências a favor dos nossos associados mutualistas senior, na área de
internet ou da cultura, dinamizadas pelos colegas. O desafio futuro é a valorizaçao do voluntariado individual dos dirigentes. Temos no Montepio muitos que são dirigentes associativos fora daqui e, portanto, trata-se de fazer a valorização dessa atividade de voluntariado corporativo; para o ser, tem de acontecer dentro do tempo deserviço.

Pela sua experiência no GRACE, o que é que motiva uma organizaçao a fazer voluntariado?
Eu diria que é um verdadeiro triângulo virtuoso, com três vantagens inequívocas. A primeira é para a comunidade: uma organização não deve fazer voluntariado num processo de autosatisfação, mas porque acha que vai fazer a diferença, e que vai ter impacto positivo. A segunda mais valia é para o colaborador: alarga-lhe horizontes, melhora a sua performance, ele descobre dimensões de inteligência emocional e de sensibilidade que certamente não conhecia. Mas a empresa tambem sai valorizada, porque o voluntariado trabalha as dimensoes da liderança, do trabalho em equipa, da coesão, abre muitas portas, estabelece muitas pontes.
As pessoas tornam-se diferentes, umas com as outras, depois de fazerem uma ação de voluntariado, nascem assim cumplicidades que resolvem problemas no quotidiano das organizações. Há pessoas que  trabalharam anos por email e só numa ação de voluntariado se conhecem; a partir daí a forma como se relacionam é completamente diferente. Para a empresa isso tem o valor de olear os canais da comunicação interna e tem uma dimensão de imagem ética. Da nossa experiência percebe-se facilmente que vale mais uma ação de voluntariado do que vários anúncios. As pesssoas percebem que aquela empresa é  diferente.

O voluntariado é bom porque é uma arma poderosíssima de gestão de recursos humanos humanizado. É fácil motivar colaboradores em cargos dirigentes a fazer voluntariado ou é facil apenas fazer com que concordem?
É fácil fazer com que os membros dos conselhos de administração participem, é mais facil convenc^-los, conquista-los, mais fácil, às vezes, do que as primeiras linhas.

Porquê?
Desenvolvemos a ideia de que  se eu interrompo o meu trabalho na organização para ir fazer algo fora dela, então é porque não estou a fazer nada de importante
e sou dispensável. E esta ideia do sou dispensável assusta imenso. Inicialmente, no voluntariado é muito dificil convencer as chefias que estejam lá para
desdramatizar essa ideia e para  que os colaboradores se sintam à vontade de aderir a esse processo. Por força do próprio mutualismo, o Montepio tem tradição de vários dirigentes serem voluntários. Pelo que conheço, ao nível do GRACE acontece a mesma coisa: temos uma grande abertura por parte dos conselhos de
administração, uma certa relutância  de graus intermédios e uma grande adesão das bases da organização.

Acompanhou o processo de voluntariado da Câmara de Cascais?
Tive esse privilégio. Vou ter muita curiosidade de ver como é que evolui. Primeiro porque não é fácil a uma autarquia, ou ao Estado ou a uma organização pública implementar um programa de voluntariado. Se é dificil para uma organização e uma empresa, para uma estrutura da administração pública ainda é mais difícil, porque o universo de alternativas para o desenvolvimento de uma acção é mais reduzido. Ou seja, uma autarquia tem claramente funções sociais e  funções de desenvolvimento social definidas –é mais difícil encontrar áreas que não façam parte das suas funções. É extremamente interessante perceber como é que uma autarquia consegue fazer a distinção de águas entre aquilo que são as suas obrigações, as suas competências, enquanto orgão da administração
local, e aquilo que possam ser mais-valias que ultrapassam essa obrigação e que podem, ainda assim, enriquecer a vida da comunidade. É um processo, do ponto de vista teórico, muito interessante e, do ponto de vista prático, muito difícil.

Do seu ponto de vista, o número de adesões- 139 - é significativo?
O número é muito significativo...  Não encontrei nenhuma experiência semelhante, pelo menos nas autarquias mais importantes ou com a dimensão de Cascais.
Significa que há uma potencialidade de crescimento muito interessante. Tudo dependerá de como as chefias  aderirem ao próprio processo.

Para uma autarquia não há o risco  de confundir o voluntariado com propaganda?
São vários os riscos, e é muito importante escolher projectos em que essa possibilidade de aproveitamento político seja menor. Por outro lado, é importante
não escolher áreas de ação que a Câmara tem obrigatoriamente como parte das suas funções - para que a comunidade não diga, que não estão a fazer mais nada mais que a sua obrigação. E também para que os colaboradores não achem que a Câmara tem menos recursos e vai utilizá-los para ultrapassar essa dificuldade. Creio que o cuidado com que foi feito o programa na dimensão social e de recursos humanos vai, de algum modo, diminuir esses riscos. Nunca se consegue agradar a toda a gente, mas estou convencida de que a forma cautelosa como foi preparado o programa, como foi elaborado o regulamento e houve o cuidado necessário para garantir que não há intromissão do voluntariado em acções que já fazem parte das tarefas fundamentais da edilidade.

É um bom exemplo de responsabilidade social?
Este programa de voluntariado pode ser um belissimo sinal do novo posicionamento do Estado... Estamos num momento de crise social grave e pode haver a deia de que o voluntariado pode ser uma panaceia, que não é. Por outro lado o momento certo para se perceber – e a vereadora do RH utilizou essa expressão muito feliz – que a administração pública não é uma entidade abstrata, mas é feita por pessoas. E essas pessoas têm uma responsabilidade e uma cidadania
individual que não é só no contexto da máquina do Estado, e passa por ver que ‘posso fazer mais, melhor ou diferente’ do que faço no meu quotidiano. A AP tem rosto, tem pessoas com muita qualidade, muita abnegação, verdadeiros heróis anónimos que fazem com que a máquina funcione. Está na hora desses heróis experimentarem uma outra coisa que pode até ser mais gratificante do que aquilo que fazem todos os dias. Esta possibilidade que a autarquia dá aos seus colaboradores é uma descoberta individual, não é para o engrandecimento da autarquia,nem  para resolver problemas que não  são resollvidos de outra  forma, mas para alargar horizontes e de formaa que conheçam o contexto do concelho em que se movem.

(entrevista C - Boletim Municipal, nº 5, Dezembro 2011)

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