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Cascais comemora Abril expondo obras de Paula Rego
“Estamos vivos” disse o presidente da Fundação D. Luís I, Salvato Teles de Menezes na cerimónia de inauguração da exposição “Paula Rego: Manifesto” um sinal de vitalidade quer do Museu que a acolhe, quer da própria Fundação. Ideia que seria corroborada por Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, dando como exemplo a recente obra da pintora adquirida pelo município que, por razões burocráticas, não pode ainda fazer parte desta exposição.
Trata-se de uma exposição “Paula Rego: Manifesto” que celebra, também, a primeira amostra individual da artista, realizada em 1965, e onde Paula Rego se insurge, através da pintura, contra o regime salazarista. Como se refere no catálogo da exposição, curadoria de Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira, “Entre os anos 1960 e 1970, a abordagem figurativa experimental de Paula Rego, intuitiva e aparentemente caótica, servia a necessidade de expressar as suas emoções, refletindo ansiedade, medo e angústia, sentimentos que eram partilhados por todos os portugueses que aspiravam a uma mudança política no país.”
Insere-se, pois, esta exposição, que estará patente na Casa das Histórias Paula Rego até o dia 6 de outubro, nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.
Esta exposição, reúne 18 obras das 19 exibidas pela pintora em 1965, aquando da sua primeira exposição individual, uma década marcada por diversos assassinatos designadamente o de Humberto Delgado, período de grande repressão do regime, de guerra colonial, que Paula Rego espelha nestas obras expostas.
Porém a obra aborda a mesma atitude de intervenção da artista perante a realidade social e política portuguesa, mesmo depois do 25 de Abril de 1974. Quando, por exemplo, explicaria Nick Willing, filho da artista e membro da comissão paritária da Casa das Histórias Paula Rego, em 1998, se verifica uma reduzida participação das mulheres no referendo sobre o aborto, “algumas preferindo ir à praia” em vez de votar. “A minha mãe ficou irritada e a forma de reagir foi pintar aquelas meninas em posições de sofrimento depois de sujeitas ao aborto clandestino”.
Como se refere no catálogo da autoria de Catarina Alfaro e Leonor Oliveira, em contracorrente com a “narrativa sobre a ditadura e o processo de democratização (…) dominados pela perspetiva e ações masculinas (…) a obra de Paula Rego inscreve na abordagem crítica desses momentos históricos não só a experiência feminina, mas também o papel das mulheres na luta pela democracia e pelos seus direitos”.CMC/HC/BN/LB
Centro de Investigação Ciência e Arte Maria de Sousa






A casa de Reynaldo Santos e Irene Quilhó dos Santos, no nº8 da rua 3 de maio, na Parede, foi reabilitada. Alguns traços de Art Deco permanecem como marca da sua origem. Construída nos anos 30 do século passado, por indicação de Eugénio da Silva Teles, em 1989 é mandada recuperar para residência do médico, escritor, historiador prof.ª Reynaldo dos Santos e da sua esposa Irene Quilhó dos Santos. Logo aí a casa ficaria ligada indelevelmente à investigação médica e às artes. Mas, é já por empenho de outra ilustre investigadora na área da medicina a Professora Maria de Sousa, amiga do casal e, por decisão da Câmara Municipal de Cascais que a casa passou, a partir deste domingo, a cumprir exatamente esse papel como Centro de Investigação da Ciência e das Artes.
Na sua inauguração, o professor Salvato Telles de Menezes, presidente da Fundação D. Luís I, fundação responsável também por mais este património cultural do concelho, lembraria, por um lado, do empenho pessoal do presidente da autarquia, Carlos Carreiras no destino dado à Casa Reynaldo dos Santos, mas também da originalidade do propósito deste edifício “articular a investigação dedicada à arte e à ciência tal como ela foi praticada pelo professor Reynaldo dos Santos, por quem a professora Maria de Sousa tinha uma estima intelectual”.
Maria de Sousa está na origem deste projeto e seria, na inauguração, lembrada pelo presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, lamentando a ausência naquela cerimónia da investigadora na área da ciência médica que faleceu há quatro ano, vítima do Covid-19, e que representa o espírito e o propósito do evento. Carlos Carreiras lembraria o compromisso assumido com a Profª Maria de Sousa, de levar por diante este projeto e, por isso, manifestou a sua satisfação pelo facto de hoje estar a ser cumprido.
E o Centro de Investigação Ciência e Arte Maria de Sousa ali está enquadrada num jardim, de 138 m2, interlúdio inspirador para quem naquela casa, de 560m2, correspondente aos pisos 0, 1, 2 e sótão, será recebido para investigar nestas duas áreas da cultura e do conhecimento, saúde, pós-graduação, história da arte, ourivesaria, gravura e teatro.
Para além do acervo de peças de mobiliário que foram recuperadas e ali mantidas, há, para apoio à investigação, um enorme espólio documental (bibliográfico, arquivístico e fotográfico) que junta as Bibliotecas e os Arquivos pessoais de Reynaldo dos Santos, de sua mulher Irene Quilhó dos Santos, dos dois filhos, João Carlos e Luís Alberto Quilhó Jacobetty, e o Arquivo Científico da Profª. Maria de Sousa.
No piso 0 o edifício comporta, para além do arquivo, uma Sala Multiusos com 42 lugares e no último piso (sótão) uma unidade de habitação destinada a residências de investigação científica.
CMC/HC/BN/AG/LB
CCD Cascais comemora 70 anos










No dia em que o Centro de Cultura e Desporto (CCD) do Município de Cascais, associação constituída pelos funcionários da autarquia, assinalou o seu 70.º aniversário com uma visita guiada ao Museu da Vila e à Fortaleza da Nossa Senhora da Luz. Antes da visita, a nova direção do CCD, para o próximo quadriénio, presidida por João Bento Vitorino, foi recebida no Salão Nobre dos Paços do Concelho pelo vice-presidente da autarquia, Nuno Piteira Lopes.
O autarca recebeu da CCD um pin comemorativo e lançou o desafio à nova direção: “têm o nosso apoio para que até final do vosso mandato consigo uma sede própria”. O repto lançado, explicaria o vice-presidente da autarquia, “é o reconhecimento de uma instituição que muito tem feito para a coesão e paz social no município”, disse Nuno Piteira Lopes.
João Bento Vitorino salientou que “esta iniciativa de comemorar os 70 anos no Salão Nobre, é um ato simbólico, já que esta instituição, que existe para servir os funcionários do município que livremente a ela se associam, é uma realidade porque a autarquia existe”.
Depois da receção no Salão Nobre seguiu-se uma visita guiada pelo historiador João Miguel Henriques e pelo arqueólogo Severino Rodrigues, ao Museu da Vila e à Fortaleza de Nossa Senhora da Luz.CMC/HC/BN/AG
Abriu em Cascais o One Market













Designado One Market este espaço de 2.500 m2 é uma zona de lazer dotada de 13 espaços estabelecimentos comerciais, hoje foram 8 inaugurados, e surge como solução urbanística enquadrada num empreendimento de luxo , o One Living, que teve a assinatura do arquiteto Francisco Valsassina.
O evento contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, do vice-presidente Nuno Piteira Lopes e do administrador da DNA Cascais, Frederico Nunes.
Gerido pela agência Municipal DNA Cascais, este será mais do que um espaço comercial, aliando a experiência cultural à oferta comercial e gastronómica de alta qualidade, fruto de um investimento dos lojistas no valor global de um milhão de euros em acabamentos, equipamentos e formação de pessoal.
O ONE Market Cascais by DNA Cascais vem promover o crescimento económico local, criando cerca de 60 postos de trabalho diretos na região, além dos postos de trabalho administrativos não locais. Adicionalmente, há uma contribuição significativa para a economia através dos postos de trabalho indiretos, gerados pelos fornecedores e prestadores de serviço.
O responsável pela DNA Cascais disse tratar-se de um projeto “da Teixeira Duarte, empresa que desafiou a DNA Cascais para", com ela apresentasse uma solução urbanística comercial e de lazer, "num espaço que pode ser usufruído por todas as pessoas que o queiram visitar e que permite também o desenvolvimento de outras atividades”, disse Frederico Nunes.
O evento contou ainda com um momento musical de Pedro Tatanka, o vocalista dos Black Mamba.CMC/HC/BN/LB/MB/FH
Cascais celebra fim do jejum no Ramadão













Mais de oito centenas de fiéis estiveram na oração que assinala o fim do mês do Ramadão que decorreu esta manhã no Hipódromo Manuel Possolo. O presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras falou de um Cascais multicultural que abraça toda a sua comunidade independentemente da cultura, credo ou condição social: "Todos são bem-vindos a Cascais. Cascais é feito de muitas cores, de muitas formas de pensar, de muitas formas de ter fé”, disse o autarca que antes da celebração dirigiu algumas palavras aos presentes. Carlos Carreiras salientaria que Cascais é um concelho onde cabem todos, desde que todos se respeitem”, disse recordando as palavras do Papa Francisco aquando da passagem por Cascais salientando o mundo como “um lugar para todos!”
“Temos que agradecer a Deus por nos ter proporcionado um município como Cascais onde nos sentimos em casa.”, disse Imran Mhomed.
O Ramadão, um dos cinco pilares da religião islâmica celebra-se no nono mês do calendário islâmico. Trata-se de um jejum que tem como objetivo educar o muçulmano “na espiritualidade, humildade e paciência”, explica-nos Imran Mhomed.
Um tempo de reflexão e atenção em Deus, e um tempo para o altruísmo. Um jejum que é feito em nome de Allah como forma de agradecimento. É também um momento de abdicação dos prazeres e desejos, obediência a Deus e limpeza dos pecados. E assim, durante este mês, a comunidade muçulmana jejua do nascer do dia até o crepúsculo.
Em Cascais a comunidade muçulmana já representa entre 8 e 10 mil munícipes. CMC/HC/MC/LB
A lente de Jorge Castro testemunha Abril de 1974
Jorge Castro, alertado por telefonema madrugador, saltou da cama para a rua e de máquina em riste registou a felicidade coletiva nas ruas de Lisboa, da manhã do dia 25 de abril de 1974 até ao primeiro de Maio. Mas, o tempo corria muito depressa naqueles anos que se seguiram e Jorge preferiu dar prioridade à Revolução em direto. E aquela preciosidade captada pelas lentes de uma Voigtländer, num rolo de 36 fotografias apesar de revelados em rolo, acabou por ser arrumada num baú, faz este mês 50 anos.
A curiosidade, ou a saudade, fê-lo, à velha maneira, revelar as fotos envelhecidas antes de nascerem para o mundo. Os cristais da película degradados foram recuperados. “Deram-me muito trabalho recuperar estas fotografias, tiveram de ser trabalhadas”. Mas ali estão elas expostas na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana, para quem quiser entrar na máquina do tempo, recuar 50 anos e assistir ao 25 de Abril de 1974 e ao 1.º de Maio do mesmo ano, visto através do olhar de Jorge Castro.
O presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras abriu a exposição e recordou a “alegria coletiva” que sentiu naquele momento ali retratado e deixou um apelo: “Precisamos de voltar a sentir essa alegria coletiva”.CMC/HC/MC/LB
Centro Cultural Moldavo inaugura a sua sede










No Edifício Cerrado Mato do nº 154 da Rua das Camélias em S. Domingos de Rana abriu o Centro Cultural Moldavo que apesar de identificada a nacionalidade dos imigrantes, na verdade bem podia chamar-se centro multicultural de imigrante. Isto porque, como Oleg Boghenco, explica, a porta está aberta para moldavos, russos, ucranianos, brasileiros, em suma, para toda a comunidade imigrante que necessite de apoio. E, essa enorme comunidade não se faz rogada.
Mas a casa não tem só esse papel de ajudar à integração dos imigrantes que procuram Cascais, e se instalam naquela freguesia.
A casa tem ainda uma vertente de divulgação da cultura moldava, particularmente dois grupos de dança tradicional, um deles de crianças, um grupo de música popular moldavo e um coro intercultural.
Esta sexta-feira foi tempo de inauguração que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Cascais, da vereadora Carla Semedo e do Embaixador moldavo em Portugal.CMC/HC/MC/LB
Da Natureza para a mesa
As ervas que crescem no campo têm valor, têm sabor e muito para contar”, disse Cláudia Mataloto na apresentação do livro “Da Natureza para a Mesa”, um livro da sua autoria e de Fernanda Botelho.
Este livro, que nos dá uma outra perspetiva gastronómica, usando os sabores das plantas, flores e frutos silvestres para acrescentar um toque gourmet à nossa dieta, foi apresentado esta quinta-feira no Mercado da Villa.
Ora, conhecer o abrunho bravo e depois degustar um molho de abrunho bravo são desafios lançados pela obra que partilha, para além de informação sobre as plantas, flores e frutos, um conjunto de receitas. Mas, para que não ficasse só no papel, o Cascais FoodLab acolheu conhecidos Chefs que lançaram mãos à obra e prepararam um conjunto de iguarias para que quem ali esteve presente experimentasse os sabores que aquele livro lhe revela.
Pesto de urtigas ou limonada de sabugueiro, ou mesmo uma carne de porco marinada em bagas de murta, são tudo ementas para uma refeição diferente, bem nutritiva, saborosa e com um aromas do campo.
Como explicaria Fernanda Botelho, a recolha de plantas deve ser feita junto de quem percebe e conhece bem o que é comestível, mas a aproximação e contemplação da natureza é um prato que também deve ser degustado, porque é saudável e enriquecedor.CMC/HC/CB/LB
Julgado de Paz de Cascais em novas instalações





















Na inauguração das novas instalações dos Julgado de Paz de Cascais, Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal lembraria que esta Estação de Inovação Social, que ocupa um antigo Centro Comercial, na Parede vai centralizar diversos serviços da Câmara Municipal de Cascais, como por exemplo a Cidade das Profissões e o Espaço V e, em breve, outras instituições de intervenção social como a Academia da Saúde, o Centro Vida Cascais, o CPCJ entre muitos outros. Este investimento, adiantaria o autarca, enquadra-se na estratégia de centralizar diversos serviços, dando aos munícipes a possibilidades de resolverem, num só local, um conjunto de assuntos, de forma mais célere, fácil, acessível e confortável.
Neste caso, disse a Juiz Patrícia Oliveira, coordenadora dos Julgado de Paz de Cascais, é uma forma de Resolução Alternativa de Litígios, que aproxima a justiça dos cidadãos, mais célere e muito menos dispendiosa. Patrícia Oliveira destacou os 4 mil processo que deram entrada no Julgado de Paz de Cascais desde a criação deste “tribunal” de proximidade, em 25 de novembro de 2010, funcionando então no Cascais Center, e das 40 situações de conflito de famílias de Cascais resolvidas. Salientou a importância deste investimento da autarquia na Justiça, numa parceria entre o Público, Estado Central e o Público, Estado Local, que permite “dar melhores condições aos munícipes” que ali recorrem, “e aos próprios funcionários”.
Trata-se, adianta a juíza coordenadora, “de um serviço de administração de justiça” que promove, numa primeira fase, soluções decididas pelas próprias partes, e “só se não conseguirem, quer numa primeira fase de mediação quer numa segunda fase de conciliação é que a solução lhes é imposta por uma terceira pessoa”, disse. Mas, como defende Patrícia Oliveira, “mais vale um bom acordo que uma boa demanda”. A decisão de um juiz de paz, adianta Patrícia Oliveira, “tem o mesmo valor de uma decisão judicial e os custas são muito mais em conta.”
A cerimónia contou ainda com as presenças do secretário de Estado Adjunta e da Justiça do XXIII Governo, Jorge Alves Costa, a Senhora Juiz de Paz Titular do Julgado da Paz de Cascais Maria de Ascensão Arriaga, o Conselheiro Presidente do Conselho dos Julgados de Paz, Vítor Gomes, a Diretora Geral da Direção Geral da Política de Justiça, Lídia Jacob, os vereadores da autarquia, Carla Semedo, José Duarte d’Almeida, Alexandre Faria e o presidente da União de Freguesias de Carcavelos e Parede, Nuno Alves.CMC/HC/MC/LB
A memória que ajuda a criar na Escola da Alapraia
Vítor Areias entra na Escola Básica da Alapraia (EBA) sem dar pela imponente presença de Michael Jordan, a lenda da NBA, pintada numa das empenas da escola, ao lado do Neemias Queta, o português que joga no basquetebol profissional norte-americano. Ambos decoram uma parede que serve de tabela de basquete e, ao mesmo tempo, são o olhar atento às movimentações táticas dos alunos da EBA. Em breve, garante-nos Luís Malta, diretor deste agrupamento de escolas, também Cristiano Ronaldo irá juntar-se ao mural de famosos. Cumprirá, provavelmente, a sua função de mito e profeta da estrada de sucesso no mundo da bola, no caso, da bola chutada.
Vítor Areias, chef de cozinha, mais dois preciosos ajudantes, Leonardo e Benedita, ambos estudantes, ele da Escola Superior de Hotelaria e Turismo, ela da Escola de Hotelaria e Turismo, dirigem-se à cozinha do refeitório, onde os espera a Chef Anisabel que todos os dias assegura uma boa alimentação à população da escola (alunos, professores e auxiliares). Hoje, espera que outro toque de mestria à ementa angarie mais clientes.
Indiferente aos ícones pintados nas empenas e aos Chefs, o João (nome fictício), aluno com necessidades educativas especiais, constrói o seu mundo num cantinho do recreio e responde com um aceno de mão à pergunta do diretor Luís Malta: “João, está tudo bem?”. Por momentos, João sai do seu pequeno mundo, ainda que com um aceno de mão, valorizando a preocupação do professor, mais do que o olhar intrusivo das enormes imagens pintadas na parede ou a presença do Vítor Areias, da Benedita e do Leonardo.
Há, naquele microcosmo, uma ilusão cognitiva que passo a explicar: Quando falamos da escola ocorre-nos uma ideia de coerência, de unidade harmoniosa pautada pela cadência de uma cartilha. Ora isso não é verdade, a realidade contradiz tudo isso. A escola é um momento de construção no caos. Que o diga o professor Luís Malta e outros professores da escola que diariamente viajam naquele corredor interior trespassado pela luz natural que os leva de lés a lés, dialogando em cada canto com os alunos, resolvendo pequenas equações da puberdade e da adolescência. Tudo isto para dizer que a Escola, esta como as demais, não têm uma porta única de entrada para o saber, sobretudo, aquele saber que molda o caráter.
Não tarda muito e os Chefs já se confundem com panelas, testos e demais instrumentos deste pequeno universo onde as mesmas mãos que manobram facas afiadas debulhando o alho ou picando a cebola, arrancam pesados panelas da boca do fogão, e os mesmos dedos indiferentes à brasa, tratam com minuciosa sensibilidade os temperos ou vertem com parcimónia cada pitada de sal.
E assim é o trabalho, dos professores como dos Chefs: umas vezes parece inspiração, mas é sempre muito mais transpiração, que a inspiração dá trabalho. Um trabalho, infelizmente, pouco valorizado por quem inverte o sentido da criação dando mais valor ao resultado que ao processo.
Mas, na escola, como na cozinha, às vezes os sentidos gravam-nos na memória trilhos preciosos que, tal como a pimenta e o sal, são parcimoniosamente usados para ajudar e não tolher os caminhos da inspiração. Para ser mais preciso, a memória é uma ferramenta, não uma cartilha. Quem a usa como cartilha, imita não cria, e corre o risco de destruir as rotinas do pensamento criativo. Abandonemos as cogitações e observemos os passos do Chef, e dos seus aprendizes na cozinha da escola da Alapraia.
Pois, na cozinha lá estava Vítor Areias, Anisabel, Benedita e Leonardo a criar: “Ao frango juntei-lhes dois vegetais da época, o nabo e o aipo de bola”, diz-nos Vítor Areias. Ora, na cozinha, quando se cria, equilibra-se o sabor sem desequilibrar o valor nutricional e não é tarefa fácil. “Na sopa de lentilhas acrescentei um pingo de azeite, cebolinho e laranja”. Se a nossa intuição dizia: “vai dar asneira!” A memória de Vítor Areias, que não vai em intuições, mas em experimentações, dizia-lhe exatamente o contrário. Vítor tinha na memória, aquela que parece esculpida no palato, a mistura de laranjas com lentilhas e, noutro cantinho da memória, surgiu-lhe um velho pitéu, muito usado nas vindimas, a combinação entre a laranja talhada em fio de azeite e flor de sal e juntou, por alguma razão, o cebolinho. E tinha razão, a mistura foi amplamente aprovada pelos cerca de 700 comensais.
Nem de propósito, também Luís Malta e os demais professores estimulam a memória dos alunos, recorrendo aos bem-sucedidos Cristiano, Jordan ou Queta, apenas para que a usem, não como cartilha, mas como ferramenta de uma carreira que eles próprios terão de construir, que quer dizer, criar. CMC/HC/PM
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