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Carlos Carreiras abre ano lectivo 2011/2012
Acompanhado pelo Presidente do Conselho Executivo da escola, professor David Sousa, Carlos Carreiras visitou salas de aula de todos os ciclos de ensino, do 5.º ao 12.º ano, e também alunos de cursos técnico-profissionais.
“Todos vocês estão na idade em que nada é impossível. Todos vocês podem ser os melhores dos melhores, não tenham dúvidas. Mas isso depende essencialmente do vosso trabalho, do vosso esforço e da paixão que colocarem em tudo o que fizerem” disse o presidente da CMC, perante vários
professores e turmas do ensino secundário da Escola Frei Gonçalo de Azevedo a quem aproveitou para desejar um “excelente ano lectivo”.
Ao longo da visita, David Sousa foi detalhando vários projectos educativos da escola sublinhando quea Câmara Municipal de Cascais “tem feito mais e apoiado mais do que estava previsto.”Na opinião do Presidente da Câmara Municipal de Cascais, pela qualidade do seu trabalho e pela
dedicação do seu corpo docente, a Escola Frei Gonçalo de Azevedo já se assumiu como uma referência na sua comunidade.
Actualmente, a rede escolar pública do concelho de Cascais conta com:
- 27 Jardins de Infância, com 44 salas e frequentados por cerca de 1.100 alunos;
- 45 escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico com 5.700 alunos, do 1.º ao 4.º ano.
- 8 escolas secundárias, três das quais integram 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico
- 6 escolas do 2.º e 3.º ciclos.
- O ensino secundário é frequentado por cerca de 5.000 alunos e há 3.000 alunos a frequentar o
- 2.ºciclo e 5.100 no 3.º ciclo.
A estas escolas juntam-se a Escola Superior de Saúde e Reabilitação de Alcoitão, Escola Superior de
Turismo e Hotelaria do Estoril, o Conservatório de Música de Cascais, a Escola Profissional de Teatro
de Cascais, entre outras, e um vasto leque de oferta privada nos vários graus de ensino.
Raquel Henriques da Silva
Para os antigos Romanos, o património era o conjunto de bens de um cidadão que, por morte, eram herdados pelos familiares. Este conceito não desapareceu – dizemos, por exemplo: ‘fulano acumulou um grande património…’ – mas, a partir do século XIX, adquiriu sentido público, designando bens colectivos de especial valor para uma comunidade. Esse valor é eminentemente simbólico, ultrapassa a dimensão material e não pode nunca ser transaccionado. Pense-se no Mosteiro dos Jerónimos… apesar de todos as crises, nenhum português pensaria em vendê-lo.
Ao longo do século XX, a classificação patrimonial não parou de crescer: dos grandes monumentos às arquitecturas populares; da peça única aos contextos, aos territórios e às paisagens. Assim acontece com a Paisagem de Sintra, do Douro e do Pico que estão classificadas na lista de Património da Humanidade da UNESCO. Estes imensos patrimónios não são bens estáticos que acumulamos sem os usar. Pelo contrário: o desafio é compreender as suas riquezas, frui-las e comunicá-las. Para isso temos de os amar, estudar e valorizar. Eles são a nossa herança colectiva: vêm de longeantes de nós, e sobreviverão à nossa morte. Identificam-nos como portugueses, falam a nossa língua, representam a nossa terra, evocam os nossos melhores, mesmo quando não lhes conhecemos os nomes. No Concelho de Cascais, são a família próxima sem a qual estaríamos dramaticamente sós.
* Prof. do Departamento de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
(Opinião Cultura in C - Boletim Municipal, nº2, Setembro 2011)
Fernando Pereira
A presença de Marcos Chuva, do SLB, nos Campeonatos Mundiais de Atletismo em Daegu, já com os mínimos para os Jogos Olímpicos em Londres, levanta
questões importantes. Por exemplo, se o Desporto Escolar (DE) foi ou não decisivo na obtenção destes resultados. Sim! Não que os quadros competitivos estejam bem estruturados no DE e os apoios materiais existam. Foi, sim, a dinamização na Escola Salesiana de Manique (ESM) desde a criação do núcleo
de atletismo (1996) que levou a Direcção da ESM, com o apoio da Câmara de Cascais, a investir em infra-estruturas para a prática da modalidade. O envolvimento dos alunos, a participação em competições no âmbito concelhio, federado e provas internacionais do DE, tiveram importância decisiva na motivação e no adquirir das experiências fundamentais.
Marcos Chuva registou este feito excepcional depois de, em Julho, ter obtido a Medalha de Prata nos Campeonatos da Europa de Sub 23, mas há mais valores a destacar no seio do grupo: Marcos Caldeira, do SLB, que participou nas Universíadas na R.P da China, em Agosto; Rodrigo Dionísio, do GDE; Sténia Betuncal, Joana Vitorino, Teresa Carvalho, Cláudio Freixo, Solange Fernandes, do CASM - todos com vários títulos nacionais. Todos têm um papel importante na dinâmica
do grupo, para que o ambiente de trabalho seja o mais favorável possível. O atletismo é uma modalidade individual com características muito próprias. Tem
pouca visibilidade e exige bastantes sacrifícios. A perseverança e a confiança no trabalho têm sido determinantes nos êxitos alcançados. Os resultados positivos
que este projecto tem vindo a registar só têm sido possíveis graças aos apoios da Direcção da ESM, da Federação Portuguesa de Atletismo, da CMC e do Gabinete
do DE.
* Professor de Educação Física na Escola Salesiana de Manique e Treinador de Atletismo
(Opinião Desporto in C - Boletim Municipa, nº 2, Setembro 2011)
Carlos Avilez
Carlos Vitor Machado, ou como é mais conhecido, Carlos Avilez, nasceu em 1937. Estreou-se profissionalmente como actor, em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço- Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963.
A conselho de Amélia Rey Colaço orientou a sua vida para a encenação. Assim, ainda em 1963, levou ao palco a peça A Castro, de António Ferreira, numa arrojada encenação que depressa lhe valeu o estatuto de “enfant terrible” do teatro português. Até fundar o Teatro Experimental de Cascais, em 1965, passou pela Sociedade Guilherme Cossoul, o Teatro Experimental do Porto e pelo CITAC – o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra.
Trabalhou em França com Peter Brook e, na Polónia, com Jerzi Grotowsky. Entre 1993 a 2000 foi Director do Teatro Nacional D. Maria II, Director do Teatro Nacional de S. João e Presidente do Instituto de Artes Cénicas. Em 1993 fundou a Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde é director e docente.
É Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, foi agraciadoA Escola Profissional de Teatro nasceu em 1992, no Teatro Experimental de Cascais.
Como surgiu a ideia de fazer esta escola?
Um dia, quando estávamos aqui a fazer o “Rei Lear” e, à tarde, o “Leandro, Rei de Helíria”, da Alice Vieira, tivemos uma marcação de 11 lugares. Achámos engraçado ter 11 pessoas a marcar. Era o Eng. Roberto Carneiro, na altura ministro, mais os filhos. Depois do espectáculo, ele veio falar comigo e fez-me uma pergunta insólita: “Você quer fazer uma escola de teatro?”. Eu disse: “Adorava fazer uma escola de teatro”. Na terça-feira seguinte telefonou a convidar-me para um almoço e daí saiu a Escola Profissional de Teatro - e o primeiro programa de escolas profissionais de teatro. A autarquia tornou-se logo parceira e, portanto, o Teatro Experimental de Cascais e a Câmara Municipal de Cascais, são os proprietários e os responsáveis por esta escola.
Foi importante o apoio da Câmara?
O apoio foi imediato e a Câmara nunca falhou: as instalações são da Câmara, todas as obras tem sido a Câmara a fazê-las. A relação tem sido sempre muita boa.
Se não fosse assim, o teatro e a escola provavelmente não existiam?
Já tinham acabado. Eu acho que o ministério portou-se mal comigo. Eu sempre cumpri, sei que fui um bom director do Teatro Nacional, fui director do Instituto de Artes Cénicas, fui director do Teatro S. João, fiz isso tudo e, de repente, o agradecimento foi este….[ em 1995, o Ministério da Cultura reduziu em mais de 50 por cento o subsídio à companhia e em Julho de 2000, Carlos Avilez foi demitido pelo Ministro da Cultura, José Sasportes, por ter sido nomeado Director do
Nacional pelo então Secretário de Estado da Cultura, Pedro Santana Lopes]. Foi uma grande perda para a Companhia. Estamos a falar de muitos anos de trabalho,
de uma companhia residente, que tem alguns elementos que foram e são professores na escola profissional de teatro. Já passaram pela escola grandes nomes do teatro, como José Costa Reis, na parte da cenografia, gente muito importante ligada à voz, como aprofessora Ana Ester Neves, uma grande cantora portuguesa, e o João Vasco, que é realmente um professor extraordinário. Assim, temos trabalhado e ajudado a sair daqui alunos com muito bons resultados.
Quantos alunos passaram pela escola profissional de teatro desde que abriu?
Anualmente são 120. É só multiplicar 120 por 18 anos. Mas um dos problemas que temos, e o Ministério ainda não reparou nisso, é a saída profissional dos
nossos alunos. Este ano, graças a um subsídio especial, três alunos tiveram possibilidade de ter um ano de trabalho. Um ano em que puderam trabalhar com grandes nomes, como Eunice Munõz. Isso foram saídas escolares a sério, e nós vamos ficar com eles por umtempo. Acho que nunca ninguém se preocupou rigorosamente com as saídas profissionais da escola de teatro. Não é [suficiente] arranjar esporadicamente um emprego. É preciso preocupar-se com as carreiras deles e ver a importância que têm. Se tivéssemos outras condições de subsídio do Ministério da Cultura,eu teria uma série de alunos de grande qualidade a trabalhar. Não tenho, porque não posso.
São muitos os jovens que se inscrevem na escola?
Muitos! Neste momento as vagas dadas pelo Ministério da Educação são 44. Nos anos anteriores, tínhamos 30 alunos de primeira categoria, daqueles que
são realmente muito bons. Este ano, excepcionalmente, tivemos muitos mais - e escolhidos temos 66, para 44 vagas. Quer dizer, escolhidos de grande qualidade. Não entra ninguém com uma média inferior a 13 ou 14. É uma prova de força , mas também o apogeu da escola.
Que provas fazem os alunos?
Primeiro, Português e Inglês. Fazem testes psicotécnicos e depois têm uma prova de corpo: Passam depois por uma prova de voz, com a professora Ana Ester
Neves e, a seguir, por um grupo, em que estou eu e o João Vasco e a professora Ana Ester para uma espécie de prova final... de talento. No fim, juntamos tudo e daí saiemos resultados. Temos critérios de selecção muito rigorosos, porque a profissão de actor é muito exigente. É um sacerdócio. É preciso gostar muito disto.
E a carteira profissional?
Devia existir. Às vezes abro a televisão, vejo aqueles jovens arepresentar e pergunto: mas isto são actores e actrizes? Estão a fazer-lhes mal.
Quantos anos tem como encenador?
Como encenador estreei-me em 1963, portanto tenho 48 anos. Mas tenho 55 como profissional de teatro, porque fui actor. Como é que um homem da matemática, vai para o teatro? Eu penso que é preferível perguntar: como é que um homem de teatro pode ter feito matemática?! Eu sou fundamentalmente um
homem de teatro. Era bom aluno, tirei matemática, até por causa da minha família, e dei aulas para sobreviver. A matemática é importantíssima para tudo...
Agora, eu sou é um profissional de teatro.
E porquê Cascais?
Porque o João Vasco, que era de Cascais, pediu ajuda ao presidente da Câmara da altura, o Dr. Serra e Moura e foi assim que viemos para um teatro abandonado, o Teatro Gil Vicente. Quando vim para Cascais, não havia autoestrada, não havia nada. Levava-se três quartos de hora a cá chegar. Vir para Cascais, naquela
altura, é como ir agora para Castelo Branco. Estou em Cascais e não quero sair daqui. Cascais é a minha terra.
(Entrevista in C - Boletim Municipal, nº 2, Setembro 2011)
Odete Morgado
O papel de animadora cultural assenta na perfeição a Maria Odete Morgado, um nome que se mistura com o reconhecimento que lhe é devido. Fundadora do Grupo Coral Infantil de Carcavelos, presidente da Sociedade Musical e Recreativa de Carcavelos e organizadora do Festival Clave de Prata, desdobra-se, há muitos anos, por várias actividades ao serviço do concelho.
Chegou cá, com 19 anos, para leccionar na Escola primária nº1 e rapidamente cruzou o seu percurso com a da Sociedade Musical e Recreativa de Carcavelos. Num regime completamente voluntário, foi uma das grandes catalisadoras para manter as portas da sociedade abertas e a própria reformulação do espaço. “Foi como essoa da terra que me cruzei com a sociedade numa procissão de Nossa Senhora dos Remédios, a última que se fez… há uns cinquenta anos. A partir daí comecei a frequentar a sociedade, a assistir à banda, a falar com as pessoas. Tinha uma grande amizade com o Senhor Vítor Damião, que era a pessoa que estava sozinho na comissão da Sociedade. Quando soube que não tinham pessoas para a direcção, nem meios para continuar, ofereci-me para o ajudar.
A minha relação com a Sociedade já vem de há quarenta anos, e como directora, há 14 anos”.
Para a professora de música, que continua a providenciar apoio escolar a alunos do 5º e 6º anos, a vocação pelas actividades para jovens é algo inato. Tão inato que a mantém “ocupada” e de sorriso em riste, há muitos anos. No exercício das suas múltiplas funções, viu, no ano de 1998, o seu trabalho ser distinguido com a Medalha de Mérito Municipal.
Aos 74 anos, Maria Odete Morgado insiste na importância da Educação Musical no crescimento dos jovens. “Abre caminhos que são os alicerces para várias coisas. A maior parte das crianças que frequentam a colectividade fazem-no por causa da Escola de Música. A música é a coisa mais bonita que temos. Mesmo aquela que achamos maçadora, também é música e muito importante.”
Nas suas palavras, o futuro não reserva grandes surpresas. O seu compromisso com o concelho rima com a longevidade do seu percurso e pouco mais importa.
De caminho, realça o sabor a missão cumprida. “Para ser muito, muito sincera, nunca estou realizada com as coisas que vou organizando e fazendo. Isto pela situação que atravessamos, pelos meios que temos. Sei que não podemos ter mais, tenho essa consciência. Queremos sempre fazer mais e melhor. Penso que nesta freguesia o balanço é positivo.”
(Perfil do Munícipe in C - Boletim Municipal, nº2, Setembro 2011)
Francisco Pinto
Cada vez que se apaga uma luz pública em Cascais, entra em acção a equipa de 14 electricistas liderada pelo Sr. Pinto. É um dos apelidos mais conhecidos entre os colaboradores municipais e provavelmente uma figura emblemática nas freguesias do concelho. “Faço gosto em me dar bem com as pessoas, respeitam-me e eu retribuo”.
Francisco Pinto, natural do Monte Estoril, tem 52 anos e entrou na Câmara Municipal de Cascais como aprendiz de electricista em plena adolescência, já lá vão 38 anos. Corria o Verão de 1974, deixara os estudos a meio por falta de vontade e trabalhar foi a saída que o pai lhe deu. Um tio electricista foi ‘fonte de aprendizagem”. Por concurso, foi subindo os degraus do ofício à medida que o exercia com saber de experiência feito. Foi ajudante, oficial e operário principal
até ter chegado (em 2004) a encarregado dos electricistas. Tem a seu cargo a manutenção da iluminação pública tradicional, dos edifícios municipais, obras mas também a área de som, em que serve a CMC mas também dá apoio a escolas e juntas de freguesias.
Grandes eventos, como os que acontecem em Cascais no Verão – e neste o trabalho foi muito acrescido, diz – põem à prova a capacidade de resposta da sua equipa: “Já estamos acostumados a este tipo de trabalho, como as Festas do Mar, tivemos agora a America’s Cup!… há sempre surpresas no serviço, mas suponho que valorizam o nosso trabalho, por isso nos chamam”. Há modéstia e orgulho neste homem que funde a sua vida com a Câmara. “Reconheço – diz – que os outros departamentos reconhecem o nosso trabalho e que o fazemos com qualidade. Somos mesmo chamados para as vistorias quando são outras entidades a tratar das luzes em alguma iniciativa”. Francisco Pinto faz questão de acompanhar os seus electricistas em tarefas de maior risco, ou de executá-las ele mesmo. Além disso, recebeu, aquando da autonomização das empresas municipais, vários colegas de outros sectores aos quais teve de ensinar o ofício. São uma meia dúzia, hoje, na sua equipa e faz questão de dizer que se sente bem a ‘ensiná-los’, apesar de ter de si próprio a imagem de ser, como encarregado, “um bocado exigente, principalmente na assiduidade, que é muito importante”.
Chefiar não é missão que o assuste. Aos 16 anos já tinha responsabilidades nos Voluntários de Cascais, e foi dos primeiros bombeiros a tirar o curso de emergência médica, do INEM. Quinze anos depois, deixa a corporação, “porque já não sentia ser útil, porque não tinha muita disponibilidade”.
Fora das inúmeras horas ao serviço dos cascalenses, o Sr. Pinto tem hábitos simples: é do Benfica “mas não doente”, gosta de pesca desportiva, é caçador e em tempos jogou a extremo-esquerdo na equipa de futebol de Onze da CMC – os torneios intermunicipais são uma tradição que se perdeu com o envelhecimento dos entusiastas, lamenta.
Em tantos anos de serviço na CMC, conheceu todos os edis de Cascais e não distingue nenhum, porque respeito pela pessoa e pelo profissional,
sempre sentiu. Evoca, no entanto, com gratidão uma antiga directora de Departamento, Eng.º Maria de Lurdes Rodrigues, a quem faz questão de
deixar uma “palavra de agradecimento, porque tinha grande reconhecimento pelo nosso trabalho e valorizava-nos muito.”
(Perfil do colaborador in C - Boletim Municipal, nº2, Setembro 2011)
Thomas Schattner
Desde que os homens e os monumentos existem, querem ser percebidos. Não são só pessoas e objetos, como a sua forma exterior insinua, mas pedem que, neles, se veja mais.
Mesmo que o seu esplendor já tenha passado, permanecem ainda vestígios desses dias poderosos abrindo portas à fantasia e à imaginação.
O que melhor descreve a interação do ser humano com o seu mundo é o verbo olhar. Quem olha, aciona todos os seus instrumentos intelectuais com o objetivo final de perceber o que está a ver: capta e focaliza o objeto, analisa e interpreta, para finalmente formar uma opinião. Os museus são o lugar para olhar desta forma.
Agora, o Centro Cultural de Cascais inaugura a exposição com o título: Blick Mira Olha! (*)e chama a atenção para o olhar dos fotógrafos sobre os monumentos arqueológicos da Península Ibérica, que os rodeiam. Imagens captadas pelos muitos fotógrafos do Departamento de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão, entidade centenária dedicada à investigação arqueológica. O título - BlickMira Olha! - em três línguas, indica o carácter universal da exposição, que se tem vindo a mostrar com notável sucesso em várias cidades desses três países. No fundo, trata-se de descobrir o aspeto intelectual dos monumentos, como Thomas Mann dizia. Esse encontra-se sempre que o homem se entrega aos seus sentidos. Foi o
que aconteceu à minha família, quando chegámos a Cascais, em tempos passados, e decidimos sediar-nos. Foi o cultivar privado do estímulo estético, que em dias frios e chuvosos de
outono, que se descobre com alguma facilidade.
Último Diretor do Instituto Arqueológico Alemão em Portugal
(Opinião Cultura in C - Boletim Municipal, nº 4, Novembro 2011)
Pedro Martins de Lima
O surf é certamente o desporto mais violento que existe e, contudo, é extraordinariamente pacífico, pois a sua violência não é contra pessoas, é contra a força gigantesca do mar, dos elementos.
Conseguir “vencer” ou pelo menos controlar a força das ondas, é uma fonte de auto-confiança. Na educação dos jovens, a “cultura do risco”, embora calculado, é um fator decisivo na formação do seu caráter, das capacidades de autodefesa e iniciativa e mesmo de sobrevivência. Na nossa época, a superproteção das crianças está se tornando um hábito, mas com maus resultados no desenvolvimento das suas capacidades de auto-resolução de dificuldades.
O surf e o bodyboard são, sem dúvida, desportos que podem compensar, de forma muito saudável, o lado negativo da protecção familiar e das longas horas sentado ao computador. Sem enfrentar riscos não se obtém auto-confiança e a consequente auto-estima. O surf, pelo esforço pioneiro do Prof. João Ferreira, tornou-se, há 16 anos, num desporto escolar em Portugal, ajudando os jovens de ambos os sexos a tornarem-se pessoas mais capazes, mais corajosas e solidárias, tirando partido das condições excelentes da nossa costa, e das condições especiais de consistência de ondas e clima ameno da costa de Cascais.
Hoje, 42% da população escolar que faz surf concentra-se na “linha de Cascais”. Quando em 1946 fiz as minhas primeiras “carreiras nas ondas” em Carcavelos, com as primeiras barbatanas vistas em Portugal e trazidas do Havai e, em 1947, com a ajuda de uma pequena prancha de cortiça, a minha primeira descida de onda em bodyboard, nunca imaginei a importância que a descoberta deste desporto teria para a minha formação pessoal, complementada em 1959 com a minha primeira prancha para surfar em pé… finalmente!
De todos os desportos que pratiquei (e foram quase todos), o surf foi o mais importante, física e psiquicamente. É também um desporto de partilha entre pais.
(Opinião Desporto in Boletim Municipal, nº4, Novembro 2011)
Conceição Fernando
Há 30 anos a dirigir uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que responde atualmente a quatro mil utentes, Conceição Fernando explica que nestes tempos difíceis há
que estar atento às necessidades que vão surgindo. Diz também que compete às IPSS não dependerem apenas do Estado, e que devem procurar a sua própria sustentabilidade de outras formas, o que implica muita criatividade.
Como é que a sua vida se cruzou com o Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos?
Nasci em Moçambique e foi lá que fiz o curso de Serviço Social. Cinco anos após a independência, em 1979, vim para Portugal para fazer equivalência no Instituto de Serviço Social. Como já tinha tido uma experiência profissional na área social, queria estudar e ao mesmo tempo trabalhar. Falaram-me que em Carcavelos ia abrir um centro comunitário e, por isso, fui à paróquia falar com o Padre Aleixo Cordeiro, que tinha o sonho de abrir este Centro. Mostrou-me uma casa ainda em obras de restauro e contratou-me logo. Trabalhava e, ao mesmo tempo, fazia o estágio final do curso. Passados dois anos, em 1983, a primeira directora técnica saiu e o Padre Aleixo propôs-me a direção técnica do centro.
Acha que os cascalenses são pessoas solidárias?
Os cascalenses não são muito diferentes dos portugueses em geral. Quando alguma causa lhes toca, os portugueses são solidários. O que é preciso é fazê-los entender e sentir essa causa.
Já alguma vez teve que dizer a alguém que não podia ajudar por falta de meios?
Apesar de as pessoas acharem que nós podemos fazer tudo, temos os nossos limites. Tentamos sempre que a pessoa não saia sem um encaminhamento, sem uma resposta,
sem uma palavra amiga. Se não conseguimos com os nossos próprios meios, pelo menos procuramos saber onde poderá ter a resposta de que necessita. Procuramos que a pessoa
sinta que alguém a ouviu e que vai procurar ao máximo ajudá-la. Este é um princípio básico de toda a equipa técnica do Centro.
Com 30 anos de trabalho na área do apoio social, tem certamente uma visão de conjunto sobre as necessidades do concelho de Cascais. Qual é a sua leitura, em termos de rede de apoio e carências?
Em termos nacionais, o concelho de Cascais está bem coberto ao nível de uma rede social de apoio. Há algumas necessidades como, por exemplo, de creches da rede solidária. Há
uma necessidade enorme ao nível dos equipamentos. Com o apoio da Câmara, o Centro Comunitário está prestes a iniciar uma nova creche. Não tivemos qualquer apoio da Segurança
Social. A creche abrirá com 54 vagas, embora tenhamos o dobro em lista de espera. Já nem sequer estamos a aceitar pré-inscrições. Em relação à terceira idade, temos uma boa cobertura de apoio domiciliário e de centros de dia. No próximo ano assinala-se o Ano Internacional do Envelhecimento Ativo. Nós, aqui, sempre apostámos muito no envelhecimento ativo, no período pós-reforma. Temos muitos reformados que são voluntários.Apostamos muito no voluntariado e nos projetos intergeracionais, que são já uma tradição no Centro
Comunitário. Nesta época, temos grupos de idosos que vão às escolas da freguesia explicar às crianças a lenda do S. Martinho. São formas de lhes fazer sentir que ainda têm muito
para dar aos outros.
Se tivesse de definir o maior problema/carência social do concelho, e não apenas de Carcavelos, em termos de sustentabilidade social, qual identificaria?
Precisamos muito de melhorar a resposta a nível da saúde mental. Esta é umas preocupações que sentimos todos os dias no nosso trabalho. Com esta conjuntura económica, são
cada vez mais os casos de pessoas com problemas de saúde mental que nos aparecem e as respostas ainda são poucas. Há que dar uma maior atenção a estas situações.
Preocupa-nos também o número de desempregados que nos procuram diariamente. No Centro Comunitário estamos a tentar reinventar respostas diferentes e criativas que possam
minimizar este problema. Fundamentalmente é não termos valências estanques. Hoje são umas, amanhã podem ser outras. Acompanhamos a evolução da nossa sociedade.
Acabámos de conseguir a certificação de qualidade. Hoje em dia não são muitas as IPSS já certificadas.
Essa certificação de qualidade tem alguma implicação ao nível da captação de apoios financeiros?
Esperemos que sim. Por outro lado, há uma maior exigência porque dá-nos mais visibilidade. Os utentes estarão mais atentos e exigirão também mais de nós. Têm todo o direito de o fazer.
Caso a situação económica se agrave, acha que há possibilidade de algumas IPSS esgotarem a sua capacidade de apoio?
Espero que não. As necessidades vão ser cada vez maiores. As IPSS vão ter que se adaptar e perceber como vão dar uma melhor resposta.
No trabalho que aqui desenvolve ao longo de três décadas qual foi a sua maior conquista?
As conquistas não são minhas, são de toda uma equipa que tenho a sortede ter a trabalhar comigo, alguns já há muitos anos. Todos eles têm este espírito que o P. Aleixo nos incutiu:
servir a comunidade.
Quanto a projetos, há algum que possa partilhar connosco?
A creche é um grande desafio porque é uma nova área nas nossas atividades. Até ao momento, as nossas atividades começavam a partir dos 6 anos e agora vamos receber
bebés. Para dar resposta a esta crise e ao desemprego estamos também a tentar criar algumas empresas sociais. Estes são os novos desafios.
Quando, ao final do dia de trabalho, regressa a casa consegue desligar-se do Centro Comunitário?
Na prática, não. Todos os dias surgem necessidades diferentes. Hoje a realidade social não tem nada a ver com a de há 30 anos. Temos como princípio estarmos atentos ao
evoluir da sociedade, respondendo às necessidades que vão surgindo. O Padre Aleixo ensinou-nos que, por vezes, temos que ter coragem de terminar com atividades que já nãofazem sentido, e responder àquilo que a comunidade precisa de nós. Essa é a razão da nossa existência.
Se pudesse voltar atrás no tempo tinha feito as mesmas opções?
Sim, até porque é um desafio diário que não nos deixa adormecer, que não nos dá uma rotina maçadora. É muito estimulante e gratificante. Todos os dias são diferentes.
(entrevista in C - Boletim Municipal, nº 4, Novembro 2011)
Maria João Pulido
Vive há 16 anos no concelho de Cascais e há dez que se dedica, a tempo inteiro, ao cuidado dos animais abandonados. De responsável pelas lojas do primeiro grupo português de pronto a vestir, um negócio de família, Maria João Pulido, passou a responsável pela qualidade de vida dos animais abandonados do concelho de Cascais - “uma paixão” desde pequena.
Sempre teve cães, gatos, e até cavalos. Muito antes de saber o que o destino lhe traçara, dizia: “se um dia a minha vida, por um qualquer motivo, tiver que dar uma volta, vou-me dedicar inteiramente aos animais”. E foi exatamente o que aconteceu. Depois de muitos anos ligada aos têxteis, como neta e filha de empresários do setor, Maria João Pulido teve que deixar o trabalho de toda a vida, por circunstâncias várias, acabando por se dedicar ao seu grande amor: os animais. O convite veio do pai e mentor da Fundação, o Comandante Saraiva Santos. A primeira conversa foi no ano 2000 e no dia 2 de janeiro de 2001 já estava a trabalhar.Para Maria João Pulido, ”trabalhar com animais não é um trabalho,
mas uma missão”, é pôr em prática os ensinamentos de São Francisco de Assis. Mas esta “missão”, de que fala com paixão, nem sempre foi fácil e, por isso, admite que
esteve várias vezes para desistir. No princípio, “não conseguia pôr de lado o coração” e lidar com os assuntos de forma racional. Conseguiu-o impondo a si mesma a dignidade que considera ser muito importante para levar a cabo este trabalho. É por isso mesmo que, quando fala de animais, não se lhe reconhece qualquer atitude fanática. Sabe que um dia os seus “amigos” vão ter que partir, uns porque morrem, outros porque são adotados. Mas há também os que ficam nas boxes, “que ninguém quer, e que também têm que ser
tratados com dignidade e amor “ e há aqueles que não pode albergar, “porque não dispõe de lugar para todos”. Apesar desta atitude, um pouco fria e distante, os olhos de Maria João Pulido, dizem-nos o contrário. As lágrimas teimam em aparecer, mas a experiência desta vida e as escolhas permanentes, impedem-nas de rolar pela face. O que está por detrás, não é mais que um grande coração que não se pode abrir a todos os animais, para não acabar traído.
Pelas suas mãos, passaram mais de três mil animais e são muitos os que ainda hoje visita, até porque fez amizade com os donos. Mas Maria João Pulido, até pelo lugar que tem, não trata apenas dos animais que estão ou estiveram na Fundação. Sozinha, sem qualquer apoio da instituição, já recolheu e arranjou donos para mais de 1200 animais e ajudou a encontrar mais de 1000 animais desaparecidos. Para “a Maria João dos cães”, como a própria diz que um dia será conhecida, se conseguir salvar 50, 60 cães, por ano, é muito bom. A coordenadora de Bem Estar do Animais, da Fundação São Francisco de Assis, diz que é urgente que alguém crie leis que defendam os animais e se assuma, de uma vez por todas, a necessidade de controlar os nascimentos. “Enquanto eu tenho na Fundação animais muitos velhinhos, de que gosto muito e não abandono, há muitos cachorros bebés a serem abatidos. Isto assim não pode continuar”. No entender de Maria João Pulido, há várias coisas que deviam serobrigatórias e uma delas é mesmo urgente: esterilizar os animais quenão sejam para procriação, fêmeas ou machos. “É preciso acabar com os preconceitos. Esterilizar um cão ou uma cadela, um gato ou uma gata, é exatamente a mesma coisa.” No que toca à adoção e porque a maioria das pessoas quer cães bebés e machos, Maria João Pulido, tem uma estratégia, apesar de achar que todos os animais podem e devem ser adotados: “os cães adultos são mais fáceis de ensinar”, até porque é fácil conhecer o seu temperamento e, muitas vezes, já viveram em casas, e as cadelas, que muita gente não quer, são melhores para viver com a pessoas, pois não marcam o território e são mais meigas.”
Em jeito de conselho aos políticos, Maria João Pulido, pede que “tenham um pouco mais de consideração pelos animais e que se cheguem à frente, na criação de leis que os defendam”.
(Perfil do Munícipe in C -Boletim Municipal, nº4, Novembro 2011)
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